domingo, 24 de outubro de 2010

macacos me mordam (ou arranhem)



Fui mordida ou arranhada por um macaco de cara vermelha quando estava mais ou menos no oitavo dia de tratamento de panchakarma. Estava me sentindo tão plena, cheia de energia, que naquele dia resolvi voltar pro ashram caminhando, não de rickshaw como costumava fazer depois de uma sessão de massagem. Digo mordida ou arranhada porque não me lembro exatamente do momento.

Fiquei tão apavorada e em pânico, que só conseguia gritar e chacoalhar minha perna esquerda, tentando me desvencilhar do primata. Acontece que tinha um bebê macaco atropelado no meio da pista, e uma poça de sangue em volta. Parei, olhei a cena e senti pena, comoção sei la, senti algo mas não medo. Costumava dar frutas para os macacos no ashram, em nenhum momento senti medo deles e segui andando. Mas o macaco chefe que liderava o bando no lado esquerdo da estrada veio pra cima de mim e me atacou, provavelmente porque achou que eu estivesse indo pra cima do bebê atropelado.

Foi horrível. Olhei dentro da minha calça e vi sangue escorrendo, comecei a chorar e um motoqueiro me deu carona até o posto médico mais próximo, o hospital de caridade do Swami Sivananda. Pensei: nada mais apropriado, como não confiar. Chegando la, com pulso a mais de 110, o médico fez pouco caso e ainda tentou me beijar. John, ou Paul não me lembro o nome do salafrário, atendeu mais ou menos umas dez pessoas antes de olhar o ferimento, e dizia para eu me acalmar porque nervosa daquele jeito ele não poderia me ajudar. Respirei fundo, e lentamente fui diminuindo minha pulsação.

Om Namah Sivaya.

Ele me examinou, me deu uma vacina antitetânica e depois me convidou para almoçar. Tudo bem, fui. Ele nasceu na India e foi adotado quando criança por um casal francês, morou em Paris e estava de volta a India para "encontrar suas raízes e ajudar as pessoas". Naquele estado de vulnerabilidade e histeria interna, a história não podia ser mais bonita e sensível. Ainda mais porque estávamos no hospital do Swami Sivananda. Foi daí que ele começou com a senvergonhice e veio pra cima de mim.

Fui embora, por alguma razão desconhecida não briguei com ele, fui gentil e apenas voltei pro ashram. Tomei banho, e depois do jantar tomei o remédio que ele me deu. Horas depois estava com os lábios inchados e ainda mais apavorada. Na manhã seguinte, voltei para a clínica ayurvédica e a médica me deu o endereço de um ótimo hospital, e me cedeu Anita, a massagista querida que estava me dando o tratamento, as massagens, os óleos para tomar, as interferências, aguentando grito, choro e tudo o mais que acontece quando você faz panchakarma.

Não sei se porque estava em estado de choque ainda, mas não tinha pensado em vacina anti-rábica. E pior, o tratamento para ser efetivo deve começar dentro de 24 horas, ufa! Recebi a primeira de uma série de cinco, administradas la na India e aqui na Inglaterra. No caminho de volta, paramos no templo de Kali para receber a bênção. De todos os templos que já visitei, os de Kali mais me chamam atenção. Porque geralmente tem uma atmosfera mais densa que os outros e o sacerdote se veste de preto. Tomamos a bênção e fomos embora, eu mancando e segurando no braço da doce Anita.

foto1: doce Anita
foto2: macaco de cara preta, mais amigo que o de cara vermelha



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