quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

vontades

Hoje acordei cedo, tomei café e criei coragem para me exercitar um pouco no parque que temos aqui por perto, dobrando a esquina. É verdade que com o frio que está não me sinta muito inclinada a fazer exercícios lá fora, mas fui. Foi bem bom, apesar de ter começado a chover, fraquinho, decidi voltar pra casa porque a última coisa que queremos agora é uma gripe. E olhando pela janela agora pouco, ao som de cítaras senti imenso desejo de pintar. Acho que foi o detalhe do teto do sobrado que fica atrás da nossa casa. As telhas lembram placas de ardósia, talvez sejam as próprias - as paredes igualmente cinzas, mais claras e na ponta da estrutura, na aresta que divide os dois segmentos de telhas há uma espécie de coroa, parecem ser feitas de tijolos em formato de espetos voltados para cima. O sobrado e o céu em tons de cinza, a coroa que corta horizontalmente a figura toda em laranja luminoso. Uma árvore meio careca a frente, em verde escuro. De repente a vista de janela se liquidifica em pinceladas de tinta.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

good interpersonal skills (required)

Estou começando a entender e gravar mentalmente o mapa da cidade. É como se fosse um triângulo principal e tudo ficasse ao redor. Mutley, Stoke, Hoe e Barbican, que é para mim o bairro mais charmoso de todos. Fica colado so Sutton Harbour, marina bem gracinha com ares de cidade baixa, centro antigo de paris e San Telmo em Buenos Aires. Galerias de arte, teatro, lojas e pubs. Comida boa, um pouco mais cara que em outras partes da cidade, mas só pela atmosfera já vale a pena sentar em qualquer um dos cafés pra tomar alguma coisa - só que dentro, porque tá um frio de rachar, mesmo.

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Ontem passei por la durante o dia para deixar alguns currículos e dar uma olhada nas galerias de arte, devo ter passado por umas cinco ou seis, a maior parte delas pequenas e com enfoque no trabalho de artistas locais, muita gravura, trabalhos em vidro - inclusive o soprado (putz sempre quis fazer vidro soprado!!), cerâmica e alguma fotografia.

Tudo meio parado, não sei se por estarmos no inverno ou por conta da crise que ainda é substancial por esses lados - o desemprego também, alto entre os mais jovens, mas enfim não vamos desanimar - não é mesmo? Em algumas galerias consegui deixar dois ou três currículos, já outras nem quiseram receber - pareciam se assustar com a expressão "looking for part time job" como se estivéssemos perguntando sobre alguma alma penada ou uma lenda urbana mal assombrada sabe? aliás há várias histórias dessas, inclusive um tour que você pode fazer pelos supostos habitats de fantasma.

Não entrei em todas, e na última delas a dona da galeria me recebeu com toda a cortesia de quem recebe uma estrangeira em sua loja com uma sacola na mão - tinha comprado uma aquarela um pouco antes, para dar de presente no natal. Daí que quando disse que estava procurando trabalho a expressão facial dela desmontou e ela logo balançou a cabeça negativamente, como se tivesse ouvido um pedido indecente. Agradeci, olhei mais umas coisas e fui embora. Depois disso bateu a real dimensão do cenário geral das arte neste momento. Tirando os museus, teatros e centros culturais que são financiados pela loteria e por outros setores do governo onde se contrata mesmo, a vida das galeria me pareceu meio anestesiada, tentando sobreviver.

Foi quando estava em frente a uma vitrine admirando pastéis, donuts e brownies (tô segurando a onda aqui pra não crescer tanto, adiposamente falando) fui abordada por um homem que havia encontrado uma meia hora antes, em uma das galerias, ele estava falando com o dono. Não prestei muita atenção a conversa deles, parecia estar mostrando portfolio. Perguntou de onde era e se precisava de alguma coisa, falava de um jeito meio lobo do mar. Parecia ter saído de algum quadrinho do angeli, usava óculos escuros, um macacão verde, dava pra ver a ponta dos dreadlocks saindo por baixo do sobretudo, quase la nos pés. Me apontou um pub e disse que poderia procurar trabalho por la - que atmosfera dali é muito boa.

Mas por enquanto vou focar a procura em lugares que tenham a ver com arte, antes de tudo algo que realmente tenha prática, depois que tiver peneirado essa rede daí sim vou mirar nas lojas e pubs novamente.

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Fomos ao teatro ontem a noite, o Barbican Theatre, onde Jamie trabalha como voluntário nas horas vagas fazendo a iluminação de algumas peças. Era sobre um cara que passa o natal sozinho, com frio, relembrando o bolo que deu na ex-namorada no natal passado quando terminaram. Engraçadinha e com boas performances musicais de um dos atores. Demos boas risadas e foi bom para confraternizar com o povo da casa.



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O mar... pescador quando sai... Nunca sabe se volta, nem sabe se fica



David Garrick between Tragedy and Comedy, 1760-1761


Entrando na terceira semana aqui, ainda me adaptando aos novos costumes e a nova casa, agora com mais um morador, um cão, acho que é um husky siberiano gigante, 11 meses, mais parece um urso. Estou começando a me incomodar com alguns aspectos domésticos, principalmente no que diz respeito a limpeza. Nunca fui muito fã de bagunça e sujeira, estou me esforçando bastante para não demonstrar insatisfação, porque parece que mais ninguém tem problemas com isso, tirando Steve e eu.

Também ainda não dá para sair, alugar algo só para nós pois o aluguel aqui é salgado e eu não estou trabalhando. Mas vamos ver o que vai acontecer com a vinda de mais um animal para casa.

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A visita ao museu municipal de artes foi breve mas com certeza voltarei la. Apesar de ser pequeno o espaço é bem organizado e as mostras me pareceram bem acessíveis. No andar térreo um apanhado geral de culturas asiáticas e africanas, egípcias e americanas. Mais a frente um espaço bem razoável dedicado a cidade de Plymouth que acaba com o café e loja.

No andar superior, duas salas que estavam trancadas, acredito que salas de conferência e duas mostras principais, uma com artistas ingleses diversos contemporâneos e modernos e outra sala inteiramente dedicada ao Sir Joshua Reynolds, pintor inglês nascido em Plympton, aqui pertinho, em 1723.

Retratista famoso aqui na Inglaterra, acreditava que a ganialidade é algo que se constrói, se cultiva através de exercício contínuo e observância. Através da prática e do estudo dos grandes mestres se chega ao domínio total da técnica e a partir daí, a descoberta de seu próprio modo de operar. O trabalho que faz aflorar o gênio.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

rocky balboa mode

E não é que estou gostando muito de Plymouth? No início do início do começo estranhei bastante o frio e a umidade. Cheguei a pensar que os ingleses não nascem com pele o osso e sim com escamas. Mas talvez agora eu também tenha criado as minhas.

Arranjei uma bota grossa e quente, meia calça também grossa, chepéu, vestidinhos reforçados e bem curtos, já quase pareço com uma garota normal da cidade. Se não fosse o sotaque, daria até para confundir. Essa parte ainda está um pouco complicada, mas a cada dia, leio mais, escuto rádio e assisto TV e lentamente vou me habituando ao jeito que as pessoas pronunciam as palavras - quase de boca fechada.

Os companheiros aqui da casa não falam muito também, mas Jamie, namorado de Emily está sempre tentando ser cortez e puxando papo comigo. Às vezes acho que deveria interagir mais, sentar mais la embaixo com todo mundo mas vou respeitar meu ritmo e levar as coisas numa boa, lentamente.

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É muito bom ter pele seca depois de anos de oleosidade! como é gostoso se lambuzar de cremes e loções .. para as mãos, para os pés, para o corpo - esfoliante para desfazer a pele morta, cremes cremes e mais cremes.

Engraçado isso de se sentir mais confiante e poderosa por causa de um batom. Ainda em São Paulo, comprei um da Revlon, meio alaranjado, meio cobre e canela lindo e achei que nunca teria coragem de usar, e eis que aqui não saio de casa sem ele.

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Atualizei meu currículo e providenciei uma carta para anexar, vou deixar em alguns lugares e lojas que acho que seriam interessantes trabalhar e é claro, onde tiver vaga para trabalho de meio período e temporário. Na época de Natal, apesar da crise há alguns lugares oferecendo vagas.

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que mais? com Steve tudo bem, é uma negociação diária mas no fim dá certo e a gente se diverte bastante junto.

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Estou pirando com as lojas daqui, tudo muito bonito, bem feito e barato. Ontem fui ao museu de arte da cidade e andei mais pelo centro. Mas isso é assunto para o próximo post. ;)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

roda roda roda

Então, não sei nem por que estou aqui em frente ao computador escrevendo. Ainda não consegui captar muito bem o que estou sentindo e acreditem, estou sentindo muitas coisas ao mesmo tempo o tempo todo. Estou feliz é claro por ver Steve e ver que ainda temos muito o que conhecer juntos, e que aquela efervescência hormonal ainda existe e sobreviveu ao intervalo de alguns meses.

Tirando essa doçura toda, tem a questão de estar divindo a cama com alguém, a casa com mais 4 pessoas que nunca vi na vida, mais um cachorro e dois gatos. Os animais sempre são simpáticos, muito fáceis de lidar.
O pessoal também, mas confesso que às vezes não entendo muito bem o que eles dizem, parecem estar falando grego. Às vezes me sinto como na Índia, onde não entendia absolutamente nada. Com a diferença de agora saber que estão falando inglês.

Pois bem, que bom que não está sendo fácil, pois caso contrário não me sentiria desafiada a avançar e sobrepor minhas limitações. E vivendo assim, longe de casa sem facilidades compreendo que são tantas!

Amanhã vou sair com Nat, namorada de Jake - ela nasceu na Colômbia e foi adotada ainda criança por pais suecos e está aqui na Inglaterra há 7 anos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

mas ainda assim é estranho ...

... saber com antecedência que sentirás falta daquilo que tanto te incomodou durante certo tempo ...

suspensão


Faltam dois dias para a viagem e simplesmente não consigo pensar em nada. Ou quase nada. Antes de sair o visto estava bastante ansiosa, fiquei até com inflamação na garganta e outras coisas, é nessas horas que sinto como o estado mental influencia na saúde de um modo geral. Nervosa, cai a tua resistência e você fica doente com mais facilidade. Enfim, passada essa fase e recuperada, voltei minha atenção aos preparativos da viagem selecionando tudo aquilo que acho necessário e relevante levar na mala: roupas, sapatos, livros, música, computadores e outras coisas que não quero me preocupar em procurar por la.

Fiz mais uns exames de rotina, daqueles que deveríamos fazer uma vez ao ano - preventivos e muito importantes. Tudo ok - tirando uma sequelazinha que ficou daquela amebíase que peguei na India mas que da pra tratar com remédio e uma outra coisinha inesperada mas que não é grave, coisa de mulher: bicho estranho e hormonal.

Agora em fase de despedidas - nada de festas, só almoços e jantares e sorvetes e passeios para dar um até logo/te vejo em breve. De fato a duração do visto é de 9 meses mas sabe-se lá o que vai acontecer, de repente fico mais um tempo. Ou não, só saberei quando for.

Não saber o que vai acontecer dá todo um sabor especial a essa nova aventura. Vai ser muito bom reencontrar Steve e ficar com ele esse tempo. Nunca morei com alguém assim, mais que um mês e acho que vamos nos sair bem, ele é um cara tranquilo. Além do mais, vamos repartir a casa com mais gente - o que a primeira vista pode parecer ruim mas na minha opinião deverá ser positivo. Primeiro porque é mais barato, segundo porque servirá como laboratório entre morar sozinho/com os pais e sozinho/com teu parceiro. Daí se a gente realmente se aturar e decidir juntar as escovas de dentes podemos procurar um cafofinho só nosso.

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Engraçado é saber de antemão que sentiria essa oscilação de pensamentos e posições. Há um mês atrás pensava que não iria mais aguentar tanta ansiedade, saudade do Steve e morar com meus pais agora faltando dois dias sinto que vou sentir tanta falta deles, dos gatos, da vizinhança e ainda, aquele friozinho na barriga que antecede grandes mudanças.

Antes de resolver que seguiria com esse plano pensei muitas vezes em todas as coisas que essa decisão implicaria; mas como acredito estar bem habituada com mudanças e por ter desenvolvido certo desprendimento em relação a aspectos domésticos, ta tranquilo.

Mas esse friozinho é gostoso e imprime certo movimento a vida. E gosto muito. Estou contente e empolgada com tudo isso que está por vir.





sexta-feira, 13 de novembro de 2009

nothing more / i give faith

Ufa! depois de um primeiro pedido recusado, nervosismo e muita dor de garganta finalmente posso comemorar: o visto saiu! eeeeeeeee \o/

Realmente ficou faltando provar que a grana estava na conta pelo período mínimo, que meu pai é de fato meu pai e todos os carimbos, cópias juramentadas, firma reconhecida e autenticações. Foi um sufoco danado mas no final valeu a pena porque foi muito bom receber um sedex 10 de manhã com meu passaporte ostentando um belo visto de entrada para o Reino Unido.

Agora vou começar a separar as coisas que quero levar porque em duas semanas pego um avião para Londres! iupiiiiiiii

\o/


terça-feira, 10 de novembro de 2009

endossa

Fica bem aqui perto de casa. Endossa é uma loja colaborativa muito legal, sempre tem umas coisinhas descoladas e os preços são justos. Funciona mais ou menos assim: a pessoa aluga um box na loja e expõe seus produtos. Aí de acordo com as vendas e a demanda por um determinado item, ou vários, o box continua ali. As marcas que saem dão lugar a outras novas que aguardam em uma lista de espera.

PS. Clica ali no título do post.

E também não sou esquimó

Já me acostumei as reações de algumas pessoas quando, em ocasiões que envolvem comida, me perguntam quase que embasbacadas "ah... você não come carne? mas peixe come né?" e a resposta é um não, tímido e contido. Não, pois peixe pra mim é carne também.

Isso tudo começou uns cinco anos atrás, quando comecei a praticar Yoga de verdade, a frequentar satsangas, workshops e cursos no centro em Porto Alegre. Ninguém nunca me disse que não poderia praticar se ingerisse carne, mas a orientação era pra realmente diminuir, principalmente a vermelha pois é prenhe de toxinas. Não precisei fazer esforço algum pois curiosamente meu próprio organismo começou a rejeitar carne depois de algum tempo de prática. Lembro de uma tarde quente, acho que fazia uns 40 graus, era verão e depois do almoço me senti muito pesada. Acho que foi a última vez que comi carne vermelha, ficava só no franguinho grelhado ou peixe, sushi e sashimi na maioria das vezes.

Aí um pouco depois disso li algo a respeito dos hormônios que são colocados na ração dos frangos quando eles são pequeninos nas granjas: eles comem, crescem rápido e são abatidos. Isso tudo em um período muito mais rápido que o normal. Também parei, comecei a achar o gosto muito estranho e me sentia constrangida em fazer parte deste ciclo.

Sobrou o peixe. Meu favorito era salmão, principalmente cru, com bastante gengibre, wasabi e shoyu. Era impossível pensar em um dia abdicar deste incrível alimento, saboroso e ultra nutritivo. Ora essa, afinal peixe não sofre, tem de monte e ah, nós humanos somos os mais evoluídos então por que deveríamos nos preocupar com animais, não é mesmo?

Aí um belo dia, se não me engano setembro do ano passado, estava no trabalho e pedi um temaki de salmão, cebolinha, cream cheese e amêndoas torradas, um dos favoritos. Fiquei enjoada o dia inteiro arrotando peixe, um horror, não sei como aquilo foi acontecer. Acho que foi uma falta de sorte porque nunca havia passado mal com sushi. Mas a partir daí também não comi mais peixe algum ou camarão ou qualquer coisa do tipo e admito que não sinto falta nenhuma, por incrível que pareça. Não me sinto fraca, desnutrida ou anemica.

Depois de aprender algumas coisas no Yoga, sobre prana e alimentação vegetariana; depois de assistir alguns filmes/documentários que mostram matadouros, granjas e desequilibrios ecológicos; depois de ter passado mal fisicamente ao comer; perceber quanto desperdício e sofrimento estão envolvidos na matança e consumo de carne, que não é essencial a nossa saúde; fui para a India e não vi ninguém morrendo por ser vegetariano (a água daí já é outro problema) enfim, depois dessas coisas todas me sinto cada vez menos inclinada a colocar um pedaço que seja na boca.

Claro que considero importante respeitar a opinião alheia, cada um é livre para fazer aquilo que quer e gosta, mas acredito mais ainda em algum senso de responsalidade por nossos atos. E se participamos de algo é porque, de certa maneira, em graus diferentes, concordamos com aquilo. E eu não apoio matança, crueldade e desperdício.

Esse é um tema que sempre gera discussão, cada qual com seu embasamento. Confesso que na maioria das vezes poderia e deveria ter mais paciência ao expor os motivos, que para mim são absurdamente óbvios e claros.

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Trata-se de uma outra consciência planetária, saca? ;)

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Mas como nem tudo são flores, o namorado é o maior carnívoro da paróquia e eu gosto dele exatamente assim.



sábado, 31 de outubro de 2009

wake up Alice

Acho que nunca fui tão estressada em toda a minha vida. Nunca tive problemas para trabalhar, nem quando era bolsista PIBIC pela universidade e ganhava uma merreca pra respirar ácaros de 1800 e bolinha lá no acervo na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo. Agora a lembrança de la me traz uma doçura incomparável de ter vivido tempos áureos, se comparados aos que tenho passado ultimamente.

Talvez tenha me tornado cricri demais, é sério, mas em toda a minha breve vida de trabalhadora assalariada - comecei a trabalhar com 18 ou 19 acho - nunca estive em um lugar tão desorganizado e imobilizado. E ao mesmo tempo com imenso potencial para ser muito mais do que ocupa no momento, em termos de qualidade.

Nunca me senti tão desvalorizada e angustiada ao ver como algumas relações de poder se constróem, como se determinam prioridades e como algumas pessoas ainda pensam (outras tem certeza) ser de fato aquilo que acham que possuem.

Sempre que converso com meus pais a respeito de minhas revoltas trabalhistas-morais-filosóficas eles vem com a mesma expressão: welcome to the real world.

Pois não acredito e não vou me conformar nunca com humilhação, cretinice e exploração.


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

helio oiticica - memória in progress

Ainda não se sabe como aconteceu o incêndio, qual será a dimensão real da perda do patrimônio e o que poderá ser recuperado. É uma lástima mesmo. Não consigo acreditar que as obras dele não tivessem seguro, não estivessem protegidas e ainda, não tivesse uma fundação a altura de uma Iberê Camargo para abrigar o acervo de um artista desse calibre.

Curiosamente o legado de Helio, inflamável, provocador, transgressor e tão voltado ao processo foi destruido assim, de uma hora para outra. Agora o que resta é o que já foi feito por um projeto de digitalização patrocinado e coordenado pelo Itau Cultural. Acho irônico para não dizer trágico que uma obra tão importante mas ao mesmo tempo tão conceitual e (parte dela) efêmera tenha desaparecido assim, no fogo, que muitos dizem envolver também uma grande fogueira de vaidades e interesses.


Seja como for, nós brasileiros que já temos a memória curta, fomos lesados com essa destruição. Aqui a cultura parece não ser realmente valorizada e preservada. É uma pena, uma tristeza e sinto muito pelas gerações futuras.


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Coincidentemente o currículo de Helio foi o último para revisar e arrumar aqui na galeria, deixei para o final porque na minha opinião seria um dos mais extensos (boa parte dele com exposições póstumas) e mais gostosos de rever.


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Como disse Agnaldo Farias, foi como uma "segunda morte".

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Quem viu, viu, quem não viu ... puta que pariu!


Relator, from Pete Yorn & Scarlett Johansson


Musiquinha bem gostosa essa, me lembra de alguma parte da música 'All my loving' dos Beatles. Clica ali no título do post!

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e falando em vídeo, atualizei alguns em meu youtube, pretendo colocar mais, da viagem para India. São bem curtinhos mas trazem boas lembranças.


bloody hormones


Não vou negar que sou uma grande fã de esportes, não fanática é claro, mas entusiasta. Gosto de assistir partidas de futebol, vôlei, competições de atletismo, natação, patinação artística e por aí vai.
Recentemente voltei minhas atenções as artes marciais e nesta última viagem, me interessei por cricket e rugby.


Acho até que o futebol, por ser um esporte extremamente injusto, é o favorito dos brasileiros. Pelo menos de muitos.


E hoje estava torcendo para Rubinho, acho que ele merecia ganhar a corrida, mas infelizmente não foi desta vez.
Então fazer o que? só nos resta dar os parabéns para Button, o campeão antecipado. Que além de mais rápido, é o mais gato também.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

observância dromedária - depois de anos, que sorte!


Parece que o plano cósmico, ou destino como algumas pessoas preferem chamar, está trazendo para perto de mim alguns de meus melhores amigos.

Engraçado porque foi muito complicado sair de Porto Alegre, deixar um monte de coisa pra trás, inclusive os amigos, e voltar a morar em São Paulo depois de sete anos.


Como é gostoso rever estas pessoas, que há algum tempinho atrás costumava ver todos os dias na faculdade ou nas jantas na casa do tio Zeca.


Lembro como foi difícil colocar isso tudo de lado quando voltei pra cá, a estranheza de ter que isolar em um canto da minha memória todas essas lembranças. A bizarrice de ter que transferir para um HD externo todos esses anos de fotografias: pessoas, lugares, festas, namorados, vernissages, yoga, amigos, conhecidos, passeios, faculdade e por aí vai.


Pode soar um tanto dramático mas foi assim que consegui tocar pra frente a vida de volta, sozinha aqui em Sampa: guardando fora do meu alcance as imagens destas pessoas e lugares.
Mas hoje em dia olho as fotos de vez em quando e a sensação é completamente oposta desta de 2 anos atrás, a nostalgia e a saudade já não incomodam, muito pelo contrário!

Toda vez que volto no tempo e olho pra trás me sinto uma pessoa muito sortuda, por ter tido a oportunidade de conhecer tantas pessoas maravilhosas e ainda hoje, poder sentar com elas e bater um bom papo, dar risada e falar de qualquer coisa.


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Meus dias de camelo estão chegando ao fim! dia 29 deste mês saio aqui da galeria, depois de 90 dias trabalhando duro. Foi bom, aprendi muita coisa, engoli alguns sapos e sobretudo, observei. Acho que poderia resumir este período de experiência em: observar e ter paciência.
No final das contas, é divertido.


sábado, 3 de outubro de 2009

ta de tpm

Ultimamente o que tem mais me tirado do sério é a velha mania, que algumas pessoas tem, de escrever "em anexo" e se acharem super cultas:

"Segue o pdf em anexo com as obras que vimos hoje aqui." Além de soar feio, pode ser uma explosiva combinação quando conjugada com o golpe final: "Vamos estar enviando para sua casa uma demonstração".

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Não tem nada a ver com a histeria coletiva que cerca a gripe suína, mas na minha opinião não há nada mais deselegante e nojento do que uma pessoa tossir na cara da outra e não tapar a boca.

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Não estava torcendo e não fiquei feliz com a eleição do Brasil para as Olimpíadas em 2016. 30 segundos antes das manchetes dos principais jornais eletrônicos do país divulgarem a vitória brasileira sobre a capital rival espanhola, uma das notícias de destaque no portal UOL era justamente sobre uma espécie de ação ecológica que tirou não sei quanto lixo da Baía de Guanabara:

Regata Ecológica tira 563 kg de lixo da baía de Guanabara (2:48)
Organizada pela Escola Naval do Rio de Janeiro, a regata tem como intuito conscientizar a sociedade sobre a necessidade de preservação de um dos cartões postais da cidade. Entre os lixos exóticos retirados da água, estão um aparelho de TV, sandálias e tênis.
Sem pensar nos arrastões, balas perdidas, infraestrutura caquética para suportar um evento dessa magnitude. Além disso o país vai gastar bilhões de reais com os jogos enquanto poderia investir essa grana em projetos sociais, saúde, educação e aproveitar pra lavar aquela sujeira de Brasília.

Isso aí, vamos abrir uma cerveja e sair do trabalho mais cedo para comemorar!!

Aff tô uma chata mesmo. :P

domingo, 27 de setembro de 2009

lost in translation é

estar struggling de saudade ...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

é o fim (do fim de semana)

Não consigo compreender por que pedem, durante os avisos que antecedem os filmes no cinema, para que desliguem os pagers antes da sessão começar. Com essa febre de blackberries e iphones da vida, quem será o dinossauro que ainda usa um pager para receber mensagens?

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Outra coisa que me confunde a cabeça durante os avisos:
"em caso de emergência, mantenha a calma"

sempre soa para mim como:

"em caso de emergência, não tenha calma"

Essa alucinação auditiva começou quando fui pela primeira vez no cultuado cinesesc assistir ao super longa-metragem (super porque tem 9 horas de duração, divididas em 3 partes) Tulse Luper Suitcases, de Peter Greenaway.

Depois deste filme, nunca mais escutei a frase da mesma maneira.
Estranho.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

entre agora e daqui a pouco

Por conta de um certificado que foi emitido cheio de erros, aliás terríveis, tive que fazer a troca de um documento errado por um correto e mais atualizado. Quando recebi o envelope contendo a papelada velha não me dei conta de que havia um cartão junto, provavelmente porque a obra foi dada de presente a alguém. Claro que não resisti a tentação de abrir e ler. Yes, I'm a bit Maria Helena.

Um cartão, enviado de filho para pai, falando sobre a sensação de ser filho/pai no dia dos pais. Achei meigo e resolvi copiar um trecho do bilhete, sem editar possíveis erros de concordância:

"Que grande dia será domingo. Sei que vou passar por isso daqui umas décadas. Chegar no dia que deixamos de ser filho pra ser pai, de deixarmos de sermos protegidos para proteger. E com vc sinto tudo isso desde o primeiro dia, o amor, o acalanto, a sensação de estar protegido."

Não sei muito bem se todos os pais protegem e todos os filhos são protegidos. Acho que essas relações são bastante relativas - tem filho por aí que protege mais que muito pai. E muito pai que é protegido, mas enfim...
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Não tão agradável assim foi o acidente que vi, melhor dizendo, ouvi hoje pela manhã. Estava a caminho do ponto de ônibus dobrando a esquina da Augusta, quando ouvi o barulho de uma forte pancada: POW!

Uma mulher atravessou a rua e foi atingida por uma moto. Caiu torta no asfalto, seu salto foi parar do outro lado da pista, ela se contorcia de dor. Todo mundo parou em volta: algumas pessoas fotografavam a cena, outras se aglomeravam em cima da vítima como se fossem moscas em cima de um polpudo bolo de chocolate. E ainda outras tentavam mantê-la acordada fazendo perguntas.

Por um momento pensei em ir la falar com ela mas como já tinha muita gente, resolvi apenas mentalizar um mantra e seguir pro trabalho.

Por uma fração de segundos senti de forma mais aguda a fragilidade de estar vivo. Percebi também que não deveríamos ter tanta pressa pra fazer as coisas. Viver é fácil - difícil é saber viver.

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Abertura sábado aqui na galeria com uma proposta bastante incomum: transferir parte do acervo para o meio da sala de exposição.

Inteligente, bem humorado, subversivo, irônico. É isso o que vejo quando olho pra montagem.


sábado, 5 de setembro de 2009

momento filosófico com carlitos, o mestre

"Ninguém é tão bom que não possa ser ruim - nem tão ruim que não possa ser bom."


terça-feira, 25 de agosto de 2009

ficha técnica desnecessária

Artista desconhecida
Sem título, 2009
técnica mista
dimensões variáveis

acervo particular

domingo, 16 de agosto de 2009

mais uma vez na paulista

Sexta-feira depois do trabalho, resolvi comprar um presente de aniversário para meu pai, aproveitei para andar pela Rua Augusta. Passei em uma lanchonete vegetariana engajada-moderninha no caminho, fiz um lanche e na volta, cortei caminho pelo Conjunto Nacional.

Passei reto pelas vitrines da Livraria Cultura, resistindo bravamente a tentação de entrar e olhar lançamentos. Daí, na hora de atravessar a Avenida Paulista uma coisa bem engraçada aconteceu.

Quando o sinal ficou verde e as pessoas começaram a atravessar, um cara que estava na calçada central, entre as duas pistas, começou a tocar bateria, uma outra pessoa triângulo e outra um pandeiro. Começou então um bailão em plena faixa de pedestres, todo mundo dançando um baião-forró-rasgado-for all. Atravessando e dançando.

É claro que eu também entrei na brincadeira e atravessei o percurso dançando alegremente.

Já estava um final de tarde mais que agradável e depois de chegar ao outro lado da rua fiquei com vontade de esperar para atravessar de volta para mais uma vez retornar e seguir para casa. Mas não fiz.

Achei que a doçura daquele momento deveria caber naquela atravessada só e mais nenhuma.

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Hoje depois de mais uma vez voltar do trabalho, mais uma vez ter caminhado pela Augusta, mais uma vez ter cortado caminho pelo Conjunto Nacional e ter mais uma vez resistido as vitrines sedutoramente decoradas da Livraria Cultura, caí na mesma faixa de pedestres na Avenida Paulista.

Mas desta vez a barulheira não vinha de pratos nem de triângulos. Mas de apitos e gritos de "Fora Sarney" vindo de milhares de pessoas usando nariz de palhaço.

"Ei você que está olhando, o Sarney tá te roubando!!" gritavam as pessoas.

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Morar perto da Paulista tem muitas vantagens, e talvez a maior delas seja justamente essa possibilidade permanente de surpresas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

welcome back, rotina

Faz um tempo que não escrevo aqui, talvez por falta de assunto, talvez por falta de tempo ou mesmo indisposição. Na verdade não tive muito tempo pra processar os últimos acontecimentos, não consegui arrumar minhas coisas direito e também não sei se quero descer desse trem expresso pra parar e pensar nessas coisas todas.

Porque era exatamente isso que desejava: arrumar um emprego, voltar ao kung fu, a rotina de sempre - enfim, ocupar a cabeça com coisas que me desviassem do pensamento a saudade e nostalgia. Guardar na lembrança com carinho os últimos meses é diferente de pensar neles todo dia e colocar defeito em tudo, porque certas vezes perece que tudo a nossa volta está repleto de defeitos e qualquer coisa externa poderia ser melhor. Não estar satisfeito nunca é realmente uma merda.


Então acho que escolhi a satisfação e a leveza. Ora bolas, se o tempo está devorando tudo nessa velocidade, nada melhor que me aproveitar desta condição e caminhar no ritmo.


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Estou aprendendo muito neste novo trabalho, outra galeria de arte, outros ares, novas artes. Principalmente a trabalhar a malemolência que adquiri ao longo destes últimos meses errando pelo mundo sozinha.

domingo, 2 de agosto de 2009

genghis khan


Nessa quinta-feira convidei meu pai para sair e fomos ali na Rua Augusta assistir o filme sobre o guerreiro Genghis Khan. Tava um frio de rachar mas estava muito a fim de assistir o filme porque afinal a história sempre me interessou.
Genghis Khan, ou Temudjin, provavelmente nascido na segunda metade do século 12, era filho de um grande líder mongol e lá pelos seus 9 anos de idade ficou órfão, tendo que sobreviver sozinho fugindo de perseguições.

Sofreu feito um diabo, foi feito escravo, casou, teve sua esposa roubada, foi feito escravo de novo, fugiu, reencontrou a bela novamente até que depois de estabelecer uma posição, digamos assim, confortável entre os "clãs amigos" - tornou-se um grande estrategista e líder. Conquistou a mongólia, o reino Tangute, marchou em direção a China, conquistou Pequim, foi pra Pérsia, depois territórios ao sul da Rússia e Ucrânia. Uma barbaridade. E depois de sua morte seu filho se encarregou de expandir a campanha.


Apesar de me considerar uma pessoa pacifista, essas histórias de guerra das antigas muito me fascinam. Ainda mais sabendo que se trata de uma pessoa que saiu literalmente do zero e conquistou boa parte do mundo conhecido naquela época.
E eu que me achava o máximo por acertar laranjas (quando praticava todo dia) a 20 metros de distância - imaginem que as flechadas dos guerreiros do grande Khan atingiam cerca de 500 m. Brilhante!

Mas apesar de ter gostado bastante do filme e adorar a história como um todo, acho que se o filme fosse meu, distribuiria melhor o tempo ao longo da trajetória dele, mostraria mais sobre a ascensão como líder e tentaria descrever de alguma forma visual, como ele foi longe e quanto foi conquistado por seu exército. Colocaria algo mais além dos letreiros.

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Lembro que no começo desse ano assisti um documentário sobre um norte-americano maluco que tenta até hoje achar o túmulo de Ganghis Khan. Conseguiu permissão do governo da Mongólia, montou um acampamento e através de pesquisas e estudos tentou mapear as estepes. E toda vez que chegavam perto de alguma pista quente, acontecia alguma cousa sobrenatural que os forçava a interromper os trabalhos. Do além.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

pérolas de homer simpson

"eclipse solar é como uma mulher amamentando seu filho em um restaurante: é lindo, é de graça mas não dá pra ficar olhando muito."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ecos românticos


"Even angels in heaven cannot obtain these powers because they don't have a physical body. They have an astral body. As they live on the astral plane, they can't create fresh karma. They live only in heaven with the karma which they created in their past lives. They have to wait for thousands of years before they come back to the planet - again get a human body, again find a good teacher, and again start topractice. They may not even start, because as they are still living in the pleasure centers in heaven, when they come back, they may just be born in say, New York City, where they know only champagne and caviar.

That is why angels are afraid of yogis like you who are practicing and disciplining your life. They are jealous because you go beyond them, so they put obstacles in front of you. They try to tempt you with various types of powers, but they are all obstacles."

Sw. Vishnudevananda - Hatha Yoga Pradipika, p.92.


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Lembro que quando estava na India, me sentia toda poderosa e cheia de energia, sentia que era capaz de fazer qualquer coisa, que estava rompendo barreiras, quebrando padrões e ultrapassando meus próprios limites. Claro que não estou falando de super poderes extrasensoriais, ou siddhis - mas sim de uma energia vibrante, que enchia de vitalidade todo movimento que executava.

Mas depois de passar um tempo na europa agora, voltei pra casa e parece que cresceu uma pedra dentro do meu peito. Não sei se é saudade do Steve, de todas as pessoas especiais que encontrei no caminho, de como é mágico estar sozinha sem rumo com uma malinha de 16 kg e todos os caminhos abertos a tua frente.

A essa falta de energia, nostalgia e saudade toda se soma a volta pra casa - voltei a morar com meus pais - a histeria coletiva da falta de emprego, da gripe suína, a pouca vergonha descarada do governo brasileiro, enfim - juntou um monte de coisa ao mesmo tempo.

E apesar de achar que também tenho todos os caminhos possíveis abertos a minha frente no momento, sinto uma paralisia colossal, mas ainda no fundo um otimismo que não morre. Agora é correr atrás de emprego, voltar a estudar e seguir em frente. Manter a energia elevada e confiar no drama cósmico.

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Claro que é sempre bom rever amigos queridos, família e todas as pessoas que realmente se importam contigo. Semana passada fui ao aniversário de 3 anos de um restaurante tailandês de um grande amigo da família, o Humberto. Revi Felipão e na sexta-feira, Andrei. Ainda tem um monte de gente que quero rever e dar aquele abraço apertado. Só que com calma porque o coraçãozinho aqui tá meio capenga.

Vai passar, vai passar ...

sábado, 11 de julho de 2009

roman bath



Daí depois de voar para Paris, dormir em um quarto no centro que ficava dentro de um bar - tudo muito caro, mas glamouroso (hahaha), resolvi comprar outra passagem para Bristol. Arrumei minhas coisas em quinze minutos e saí correndo para pegar o RER em direção ao aeroporto.

Quase esfolei meus pés, mas deu certo. O voô atrasou e no fim deu tudo certo, cheguei de noite e fomos para a casa do pai de Steve, que fica em Bath - mais ou menos há trinta minutos do aeroporto de Bristol.

Uma cidadezinha muito simpática, fundada pelos Romanos, cheia de igrejas, parques, pubs, jardins, museus, canais e lugares românticos para se apaixonar perdidamente. É famosa pelos banhos termais curativos. Mais uma vez, tudo muito lindo.
Aproveitei mais 3 dias com ele, conheci sua família e fiz alguns passeios.
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Ontem voei para Paris de novo para encontrar meu pai e viemos para o Brasil. Chegamos hoje de manhã e estou ainda meio perdida. Normal.
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Tudo isso valeu muito a pena.






camping, sprouts & cuddle me




Quando cheguei na Inglaterra no final do mês passado, fomos direto do aeroporto para uma região litorânea ao sudoeste de Bristol. Acampamos em um lugar muito gostoso em Infracombe.
O camping ficava bem perto de uma praia linda, rodeada de vegetação e em quinze minutos de caminhada estávamos de volta a barraca. Fazia tempo que não acampava - na verdade acho que nunca tinha acampado assim, como tanto "luxo". Uma pequena geladeira, mesas, cadeiras, som, panela para cozinhar vegetais e churrasqueirinha. Colchão inflável e até uma estrela de papel que trouxe da India e coloquei no teto do nosso quarto.
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Steve é carnívoro e gosta de cerveja. Nada mais apropriado para uma vegetariana que flerta com vinho.
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Estava um clima muito agradável, durante o dia calor, sol - perfeito para ir à praia e à noite um friozinho gostoso para dormir. Torramos no sol algumas vezes e outras com dia nublado, fomos a pubs assistir a jogos de rugby ou comer algo.

E a cidade era muito bonita - sou meio suspeita para falar da Inglaterra pois gosto muito - cheia de igrejas, cafés, um aquário municipal, uma marina charmosa, muitos pubs e natureza, tudo muito lindo e bem cuidado.

Parece que quando a gente se diverte o tempo passa muito mais rápido mesmo, e assim foi, depois de 8 dias estava no aeroporto voando para Paris.






segunda-feira, 6 de julho de 2009

a louca

Fazia tempo que nao cometia loucuras por alguem. Felizmente vou voar de volta para o Brasil nesta quinta-feira com meu pai entao resolvi aguarda-lo aqui em Paris. Mas ontem me bateu um desespero tao infernal que resolvi comprar outra passagem para passar mais 3 noites na Inglaterra com Steve.

Nao faz sentido nenhum gastar tanto dinheiro para ficar apenas mais 3 dias la mas eu nao estou nem ai. Nao sei quando vou ve-lo novamente e nao estou muito a fim de ficar aqui.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

credit karma: I want you

Depois de perder alguns quilos nas privadas indianas, visitar uma porcao de templos e lugares sagrados; doar dinheiro, fazer oracoes, oblacoes e caminhadas silenciosas; participar de rituais, aratis e satsangas; entrar no Ganges tres vezes, parar no hospital e queimar algum karma, acho que estou com credito no astral.

Entao nada
melhor que pegar um aviao ate o Reino Unido e ir pecar um pouco com Steve, o ingles charmoso que viajou comigo no trem em direcao a Varanasi.

Embarco amanha de manha e sinto borboletas no estomago.

sunny paris

Foi meio estranho chegar em Paris depois de passar esse tempo todo la na India. Aqui as pessoas mal se olham na rua mas na verdade isso nao importa porque vim mesmo para ver a Debby.

Gostaria de passar mais tempo em sua companhia. Como isso nao eh possivel pois ela esta trabalhando muito, soh me resta aproveitar ao maximo cada minuto que temos juntas.

O cli
ma esta muito agradavel, ensolarado mas bem fresquinho pra mim que estava acostumada com temperaturas apocalipticas. Hoje vou novamente almocar com Debby e depois passear em montmartre - sugestao dela.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Hurriganes - Keep on knockin'

Assisti agora pouco no avião um filme chamado "Ganes", de 2007, sobre uma banda de rock finlandesa da década de 70. O som não é muito diferente do rock que se fazia na época mas mesmo assim achei bem bom e gostei da história deles. Bando de ciganos escandinavos malucos!

(Clica ali no título do post)

Dentro de quatro horas pego outro avião em direção a Paris. Por enquanto vou ficar por aqui navegando na internet super rápida e gratuita do aeroporto de Helsinki. Diliça!

mehandi mehandi mehandi freak


Pirei o cabeção com o calor em Delhi e fiz mais duas tatuagens de henna. Uma no braço direito e outra na perna direita. Não sei se faria definitiva mas essas realmente gosto e acho que elas poderiam durar 6 meses. Poderia entender de química e inventar uma henna com permanência prolongada.

Claro que sair de la não seria algo tranquilo - o taxi chegou atrasado e o motorista ainda pediu pra parar no meio do caminho - preparou o café da manhã de sua amiga vaca - e outros bichinhos. Só na India mesmo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Incredible !ndia

Nao sei direito o que estou sentindo agora. Eh um certo alivio sair deste calor infernal e saber que dentro de algumas horas estarei em Paris revendo Debby e Mederic. Que vou poder comer tranquilamente qualquer coisa e beber agua da torneira. Ao mesmo tempo eh tao dificil ir embora.

Nao arrastei o peh do 'main bazar' desde que cheguei em Delhi, nao vi o Red Fort ou qualquer outro monumento, nao fui a museus nem ao centro Sivananda praticar Yoga. Faz muito calor mesmo e sinto que cheguei ao meu limite fisico e psicologico, por isso passei a maior parte do tempo praticamente pelada em baixo de um ventilador. E falo em limite porque de fato eh quase impossivel sair na rua e nao captar algo novo, estranho e diferente. Desde pessoas te chamando para tomar chai, ou conhecer uma loja, perguntando de onde voce eh e ha quanto tempo esta aqui. Criancas brincando, trabalhando ou catando lixo; vacas cagando no meio da rua (olha a merda aqui de novo), buzina de auto rickshaw, musica pop, mantras milenares. Cheiro de comida, incenso e fumaca de diesel. Turistas drogados, casais passeando, caes preguicosos. Alguem que te estende a mao sorrindo e alguem tentando te enganar e fazer mais dinheiro. Idosos maltrapilhos, estudantes de tecnologia - enfim, eh um banquete para os sentidos!

E neste exato momento eh como se tivesse acabado de fazer uma grande refeicao em um buffet livre com direito a sobremesa e nao ha espaco para nem mais um cafezinho. Sentirei saudades deste lugar que foi a minha morada durante quase dois meses (menos uma doce semana que passei no Nepal).

Se voce, caro leitor ou cara leitora, gosta de aventura e nao tem medo de ser revirado do avesso e chacoalhado de cabeca para baixo, venha para a India! Essa grande Mae com certeza vai te acolher com imensos e multiplos bracos abertos. E de quebra voce nao vai sair o mesmo daqui, definitivamente.

nosso sadhu e o ganges

segunda-feira, 22 de junho de 2009

entre a merda e o sagrado

Acho que nunca pensei tanto em Deus e em merda como nestes ultimos dois meses aqui na India. O que me motivou a fazer essa viagem foi principalmente o Yoga e a peregrinacao a locais sagrados - o resto foi acontecendo por consequencia.

Primeiro tive que acostumar com a merda de vaca pelas ruas, o cheiro de merda, a cinza feita com merda que os sadhus passam no corpo.

Depois vieram as latrinas indianas - que sao vasos sanitarios embutidos no chao e o contato com a merda (feito pela mao esquerda). Apesar de continuar usando papel higienico procuro cumprimentar as pessoas, comer e fazer tudo com a mao direita, pra entrar no clima e porque afinal sou destra.

Em seguida foi a minha propria merda - com a diarreia, ameba, caganeiras repentinas. O menor sinal de mudanca na consistencia, coloracao e cheiro ja me da verdadeiro pavor. Ainda bem que nao joguei fora os remedios e sais que sobraram.
Nao sei se eh por causa do calor seco e apocaliptico de 43 graus que voltei a sentir dor de barriga. Estou cuidando muito da alimentacao, voltei a escovar os dentes com agua mineral, desinfetar bem as maos e beber muito liquido.

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Antes de fazer as refeicoes costumo entoar mentalmente uma prece - eh uma passagem do Bhagavad Gita - aprendi com o Gopala no centro de Yoga e nunca mais esqueci. Dedico o alimento a Krisna sempre antes de comer - sera que ele tambem tem passado mal com piriri la nos reinos celestiais?

Isso tudo me faz lembrar de um trecho de "A insustentavel leveza do ser" - um dos livros que trouxe comigo na mochila:

"Quando era garoto e folheava o Velho Testamento para criancas, ilustrado com gravuras de Gustave Dore, via nele o Bom Deus em cima de uma nuvem. Era um velho senhor, tinha olhos, nariz, uma barba comprida e eu dizia comigo mesmo que, como ele tinha boca, devia comer. E se comia, devia ter tambem intestinos. Mas essa ideia logo me assustava, porque apesar de pertencer a uma familia pouco catolica, eu sentia que a ideia dos intestinos de Deus era sacrilega.

Sem o menor preparo teologico, espontaneamente a crianca que eu era entao ja compreendia, portanto, que existe incompatibilidade entre a merda e Deus e, consequentemente, percebia a fragilidade da tese fundamental da antropologia crista segundo a qual o homem foi criado a imagem de Deus. Das duas uma: ou o homem foi criado a imagem de Deus e entao Deus tem intestinos, ou Deus nao tem intestinos e o homem nao se parece com ele.

Os antigos gnosticos sentiam isso tao claramente quanto eu aos cinco anos. Para resolver esse maldito problema, Valentim, grao-mestre da gnose do seculo II, afirmava que Jesus 'comia, bebia, mas absolutamente nao defecava.'"

main bazar

A viagem para Delhi foi tranquila, vim de segunda classe, sentadinha, ouvindo musica e fazendo cruzadinha. Viajar de trem eh sempre sossegado, me preocupo mesmo quando tenho que entrar em algum veiculo motorizado - os indianos dirigem feito loucos. A mao eh pela erquerda mas quase sempre, eles vao em todas as direcoes ao mesmo tempo. Agora, imagine isso e um calor de mais de 40 graus, buzinas, fumaca de diesel e vacas por todos os lados. Eh sempre uma aventura e um exame cardiaco.

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Conheci duas professoras no trem e finalmente descobri porque algumas mulheres alem de colocar o bindi (ponto entre as sobrancelhas) fazem uma marca vermelha na raiz dos cabelos, bem no meio da testa: sinal de que sao casadas. E os turbantes pretos e alaranjados com uma especie de "pompom" na frente sao usados por homens da religiao sikh - ja que nunca cortam os cabelos. Alias o sikhismo eh uma tradicao recente mas igualmente interessante. Proxima vez que vier a India quero ir a Amritar e ver o Golden Palace, lugar sagrado para eles.

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Vim parar em um hotel no main bazar - o paraiso das bubigangas. Tudo o que voce imaginar e desejar compras na India esta aqui a um preco bem mais barato. Incenso, tecido de todos os tipos, temperos, joias, livros, cosmeticos, estatuas, cd's, instrumentos e muitas outras coisinhas. Eh uma tentacao consumista! Ainda bem que soh me restam algumas rupias no bolso.

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O hotel eh um verdadeiro muquifo's place, bem barato e localizado na boca do bazar. Mas faz tanto calor aqui em Delhi que nao da muita vontade de sair de baixo do ventilador.

sábado, 20 de junho de 2009

Delhi, aí vou eu




Não poderia ter escolhido lugar melhor para descansar e recarregar minhas baterias: Rishikesh é realmente um cheio de prana. As pessoas são amigáveis e curiosas - como em toda a India. Mas aqui a atmosfera espiritual é mais forte - é um local sagrado de peregrinação.

Estou bem contente de ter vindo para cá e ter passado todos esses dias me recompondo. Parece que recebi uma injeção de serenidade. Tenho mais três dias no país antes de voar para a França - com escala na Finlândia.
Quero visitar o centro Sivananda de Yoga em Delhi e fazer umas comprinhas. Nada demais. Talvez visite o Red Fort também. Sensação de missão cumprida.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Davai!





Já estava pensando em fazer uma tatuagem de henna desde a semana passada e ontem durante o jantar pensei: vou hoje. Pretendia fazer no sábado de noite mas resolvi ouvir essa voz que de vez em quando fala comigo. Chegando lá, sentei no banquinho e Jagannath começou seu trabalho. Em menos de dez minutos escuto um maluco gritando meu nome com forte sotaque: era Alex. Depois de um mês encontrei os russos aqui em Rishikesh! Vladimir estava junto e me mostrou seu machucado na perna - disse também que só não pegaram parasita pois bebem rum todo dia e assim não há ameba que resista, pelo menos não sóbria.

Engraçado isso - encontrei duas vezes pela India Alan, o artista de NY, em Delhi e Kathmandu no Nepal; Adam, o advogado de Nottingham, em Kathmandu e Darjeeling; Kamani a fofíssima do Sri Lanka- Austrália em Pushkar e aqui, e agora os Russos, Vladimir e Alexander, em Darjeeling e aqui também.


Hoje de tarde vou descer até o rio e assistir um arati - vou procurá-los para me despedir. Amanhã não quero me mover daqui - talvez vá para mais um banho no Ganga de manhã cedo, depois só quero ler, comer, descansar e me preparar para viajar de madrugada. Davai!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Divine Life Society


Acabei de me dar conta de uma coisa muito importante e um tanto óbvia: o ashram que estava procurando não é esse que freqüentei durante dois dias. Fiz uma grande confusão entre este aqui de Rishikesh - que é da DLS - e o ashram que desejava ficar, em Netala - há oito horas de Haridwar. Agora tudo faz mais sentido na verdade.

Quando disse que tinha enviado um e-mail solicitando hospedagem e ninguém entendeu nada ou quando entrei no salão de meditação e vi lugares fixos para "santos, homens e mulheres".
As aulas de Hatha Yoga seguem os mesmos moldes mas há uma vibração diferente, não sei dizer muito bem qual. Tive a impressão de que aqui eles são mais rígidos e sérios. E o complexo abriga também um grande hospital, biblioteca, editora e ainda - achei muito legal isso - no caminho de volta para o hotel achei uma casa para leprosos, portadores de deficiência física, aids e prostitutas.

Enfim, fiz a maior confusão da paróquia! As aulas acabaram ontem - pois está muito quente e os professores vão para as montanhas, onde ficam até julho. O jeito é praticar sozinha (como tenho feito há dois anos aliás) de manhã bem cedo porque é fresquinho. Poderia fazer em outra escola - mas gosto de praticar este método - poderia ir também para Netala - mas quero ficar sossegada aqui, fazer massagem e relaxar.

E ah, fui no hospital hoje fazer exame - e a ameba se foi!! :D


Do NOT blow horn


Dá pra imaginar mais ou menos o que os Beatles encontraram por aqui, quando se hospedaram no Maharishi Mahesh Yogi Ashram nos anos 60. Rishikesh é rodeada por montanhas belíssimas, banhada pelo sagrado Ganga - definitivamente um lugar propício para a prática de Yoga e meditação. Hoje em dia é possível também aprender algum instrumento musical, hindi ou experimentar massagens diversas e terapias alternativas. Rafting, trekking e acampamentos também se acha por aqui e os preços são bastante razoáveis. Mas é uma pena que perto dos centros mais comerciais haja tanto barulho de buzina, lixo e poluição. Como em outros lugares em que estive na India até agora, Rishikesh mostra que os indianos são privilegiados por uma natureza estonteante - e aparentemente não são totalmente conscientes disso. É uma pena.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Radha Naam Sang - hit do verão

As criaturas celestes sabem tudo e vêem tudo


Enfrentar sozinha as mais diferentes situações uma pinóia! Toda vez que a porca realmente torce o rabo aparece alguém especial no caminho. Em Delhi foram Jenny e Paula; em Varanasi, Steve; no Ashram foi Aline e aqui em Rishikesh, Kamani. Quase quatro dias inteiros em sua mais-que-agradável companhia. Passeamos bastante, andamos pelos mercados, tomamos banho no Ganges, assistimos pujas e cantamos no templo dedicado a Krisna - eles estão cantando o Maha Mantra há quatro anos sem parar, revezando. Eta geminiana porreta essa, já deixa saudades!

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Faz um calor insuportável aqui durante o dia mas já me sinto mais forte, voltei a comer e sentir mais disposição. Hoje pela manhã tomei meu segundo banho no Ganga e no caminho de volta, passando pela Ram Jhula, uma mulher parou na minha frente e me cumprimentou calorosamente. Como se nos conhecessemos de longa data. É muito gostoso quando alguém te aborda assim, no meio da rua, inesperadamente.


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Tenho mais cinco dias aqui em Rishikesh. Pretendo me recuperar da ameba, ler bastante, relaxar, fazer massagem e praticar Yoga. Naturalmente este é um momento de introspecção maior e não me sinto tão inclinada a conhecer muitas pessoas mais e falar o tempo todo. Quero guardar alguma energia para os dias que virão.
Talvez participe de satsangas, visite alguns templos mais, só que bem na boa, devagar. Domingo de manhã bem cedo vou para Haridwar e de lá pego um trem expresso para Delhi, onde ficarei três dias antes de voar para Paris.

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Ontem visitei o Sivananda Ashram e hoje de tarde fiz uma aula de Hatha Yoga. Foi uma grande emoção visitar o lugar em que Swami Sivananda começou a ensinar. Mas isso é assunto para um próximo post.