quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

vontades

Hoje acordei cedo, tomei café e criei coragem para me exercitar um pouco no parque que temos aqui por perto, dobrando a esquina. É verdade que com o frio que está não me sinta muito inclinada a fazer exercícios lá fora, mas fui. Foi bem bom, apesar de ter começado a chover, fraquinho, decidi voltar pra casa porque a última coisa que queremos agora é uma gripe. E olhando pela janela agora pouco, ao som de cítaras senti imenso desejo de pintar. Acho que foi o detalhe do teto do sobrado que fica atrás da nossa casa. As telhas lembram placas de ardósia, talvez sejam as próprias - as paredes igualmente cinzas, mais claras e na ponta da estrutura, na aresta que divide os dois segmentos de telhas há uma espécie de coroa, parecem ser feitas de tijolos em formato de espetos voltados para cima. O sobrado e o céu em tons de cinza, a coroa que corta horizontalmente a figura toda em laranja luminoso. Uma árvore meio careca a frente, em verde escuro. De repente a vista de janela se liquidifica em pinceladas de tinta.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

good interpersonal skills (required)

Estou começando a entender e gravar mentalmente o mapa da cidade. É como se fosse um triângulo principal e tudo ficasse ao redor. Mutley, Stoke, Hoe e Barbican, que é para mim o bairro mais charmoso de todos. Fica colado so Sutton Harbour, marina bem gracinha com ares de cidade baixa, centro antigo de paris e San Telmo em Buenos Aires. Galerias de arte, teatro, lojas e pubs. Comida boa, um pouco mais cara que em outras partes da cidade, mas só pela atmosfera já vale a pena sentar em qualquer um dos cafés pra tomar alguma coisa - só que dentro, porque tá um frio de rachar, mesmo.

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Ontem passei por la durante o dia para deixar alguns currículos e dar uma olhada nas galerias de arte, devo ter passado por umas cinco ou seis, a maior parte delas pequenas e com enfoque no trabalho de artistas locais, muita gravura, trabalhos em vidro - inclusive o soprado (putz sempre quis fazer vidro soprado!!), cerâmica e alguma fotografia.

Tudo meio parado, não sei se por estarmos no inverno ou por conta da crise que ainda é substancial por esses lados - o desemprego também, alto entre os mais jovens, mas enfim não vamos desanimar - não é mesmo? Em algumas galerias consegui deixar dois ou três currículos, já outras nem quiseram receber - pareciam se assustar com a expressão "looking for part time job" como se estivéssemos perguntando sobre alguma alma penada ou uma lenda urbana mal assombrada sabe? aliás há várias histórias dessas, inclusive um tour que você pode fazer pelos supostos habitats de fantasma.

Não entrei em todas, e na última delas a dona da galeria me recebeu com toda a cortesia de quem recebe uma estrangeira em sua loja com uma sacola na mão - tinha comprado uma aquarela um pouco antes, para dar de presente no natal. Daí que quando disse que estava procurando trabalho a expressão facial dela desmontou e ela logo balançou a cabeça negativamente, como se tivesse ouvido um pedido indecente. Agradeci, olhei mais umas coisas e fui embora. Depois disso bateu a real dimensão do cenário geral das arte neste momento. Tirando os museus, teatros e centros culturais que são financiados pela loteria e por outros setores do governo onde se contrata mesmo, a vida das galeria me pareceu meio anestesiada, tentando sobreviver.

Foi quando estava em frente a uma vitrine admirando pastéis, donuts e brownies (tô segurando a onda aqui pra não crescer tanto, adiposamente falando) fui abordada por um homem que havia encontrado uma meia hora antes, em uma das galerias, ele estava falando com o dono. Não prestei muita atenção a conversa deles, parecia estar mostrando portfolio. Perguntou de onde era e se precisava de alguma coisa, falava de um jeito meio lobo do mar. Parecia ter saído de algum quadrinho do angeli, usava óculos escuros, um macacão verde, dava pra ver a ponta dos dreadlocks saindo por baixo do sobretudo, quase la nos pés. Me apontou um pub e disse que poderia procurar trabalho por la - que atmosfera dali é muito boa.

Mas por enquanto vou focar a procura em lugares que tenham a ver com arte, antes de tudo algo que realmente tenha prática, depois que tiver peneirado essa rede daí sim vou mirar nas lojas e pubs novamente.

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Fomos ao teatro ontem a noite, o Barbican Theatre, onde Jamie trabalha como voluntário nas horas vagas fazendo a iluminação de algumas peças. Era sobre um cara que passa o natal sozinho, com frio, relembrando o bolo que deu na ex-namorada no natal passado quando terminaram. Engraçadinha e com boas performances musicais de um dos atores. Demos boas risadas e foi bom para confraternizar com o povo da casa.



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O mar... pescador quando sai... Nunca sabe se volta, nem sabe se fica



David Garrick between Tragedy and Comedy, 1760-1761


Entrando na terceira semana aqui, ainda me adaptando aos novos costumes e a nova casa, agora com mais um morador, um cão, acho que é um husky siberiano gigante, 11 meses, mais parece um urso. Estou começando a me incomodar com alguns aspectos domésticos, principalmente no que diz respeito a limpeza. Nunca fui muito fã de bagunça e sujeira, estou me esforçando bastante para não demonstrar insatisfação, porque parece que mais ninguém tem problemas com isso, tirando Steve e eu.

Também ainda não dá para sair, alugar algo só para nós pois o aluguel aqui é salgado e eu não estou trabalhando. Mas vamos ver o que vai acontecer com a vinda de mais um animal para casa.

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A visita ao museu municipal de artes foi breve mas com certeza voltarei la. Apesar de ser pequeno o espaço é bem organizado e as mostras me pareceram bem acessíveis. No andar térreo um apanhado geral de culturas asiáticas e africanas, egípcias e americanas. Mais a frente um espaço bem razoável dedicado a cidade de Plymouth que acaba com o café e loja.

No andar superior, duas salas que estavam trancadas, acredito que salas de conferência e duas mostras principais, uma com artistas ingleses diversos contemporâneos e modernos e outra sala inteiramente dedicada ao Sir Joshua Reynolds, pintor inglês nascido em Plympton, aqui pertinho, em 1723.

Retratista famoso aqui na Inglaterra, acreditava que a ganialidade é algo que se constrói, se cultiva através de exercício contínuo e observância. Através da prática e do estudo dos grandes mestres se chega ao domínio total da técnica e a partir daí, a descoberta de seu próprio modo de operar. O trabalho que faz aflorar o gênio.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

rocky balboa mode

E não é que estou gostando muito de Plymouth? No início do início do começo estranhei bastante o frio e a umidade. Cheguei a pensar que os ingleses não nascem com pele o osso e sim com escamas. Mas talvez agora eu também tenha criado as minhas.

Arranjei uma bota grossa e quente, meia calça também grossa, chepéu, vestidinhos reforçados e bem curtos, já quase pareço com uma garota normal da cidade. Se não fosse o sotaque, daria até para confundir. Essa parte ainda está um pouco complicada, mas a cada dia, leio mais, escuto rádio e assisto TV e lentamente vou me habituando ao jeito que as pessoas pronunciam as palavras - quase de boca fechada.

Os companheiros aqui da casa não falam muito também, mas Jamie, namorado de Emily está sempre tentando ser cortez e puxando papo comigo. Às vezes acho que deveria interagir mais, sentar mais la embaixo com todo mundo mas vou respeitar meu ritmo e levar as coisas numa boa, lentamente.

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É muito bom ter pele seca depois de anos de oleosidade! como é gostoso se lambuzar de cremes e loções .. para as mãos, para os pés, para o corpo - esfoliante para desfazer a pele morta, cremes cremes e mais cremes.

Engraçado isso de se sentir mais confiante e poderosa por causa de um batom. Ainda em São Paulo, comprei um da Revlon, meio alaranjado, meio cobre e canela lindo e achei que nunca teria coragem de usar, e eis que aqui não saio de casa sem ele.

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Atualizei meu currículo e providenciei uma carta para anexar, vou deixar em alguns lugares e lojas que acho que seriam interessantes trabalhar e é claro, onde tiver vaga para trabalho de meio período e temporário. Na época de Natal, apesar da crise há alguns lugares oferecendo vagas.

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que mais? com Steve tudo bem, é uma negociação diária mas no fim dá certo e a gente se diverte bastante junto.

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Estou pirando com as lojas daqui, tudo muito bonito, bem feito e barato. Ontem fui ao museu de arte da cidade e andei mais pelo centro. Mas isso é assunto para o próximo post. ;)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

roda roda roda

Então, não sei nem por que estou aqui em frente ao computador escrevendo. Ainda não consegui captar muito bem o que estou sentindo e acreditem, estou sentindo muitas coisas ao mesmo tempo o tempo todo. Estou feliz é claro por ver Steve e ver que ainda temos muito o que conhecer juntos, e que aquela efervescência hormonal ainda existe e sobreviveu ao intervalo de alguns meses.

Tirando essa doçura toda, tem a questão de estar divindo a cama com alguém, a casa com mais 4 pessoas que nunca vi na vida, mais um cachorro e dois gatos. Os animais sempre são simpáticos, muito fáceis de lidar.
O pessoal também, mas confesso que às vezes não entendo muito bem o que eles dizem, parecem estar falando grego. Às vezes me sinto como na Índia, onde não entendia absolutamente nada. Com a diferença de agora saber que estão falando inglês.

Pois bem, que bom que não está sendo fácil, pois caso contrário não me sentiria desafiada a avançar e sobrepor minhas limitações. E vivendo assim, longe de casa sem facilidades compreendo que são tantas!

Amanhã vou sair com Nat, namorada de Jake - ela nasceu na Colômbia e foi adotada ainda criança por pais suecos e está aqui na Inglaterra há 7 anos.