domingo, 31 de maio de 2009
sweatin'Cochin
Estes dois ultimos dias passei em Fort Cochin - fui a praia em Cherai, cerca de meia hora partindo de barco de Vypeen Island, tomei banho de mar (totalmente vestida, eh claro) e visitei alguns lugares historicos na ilha.
Fui ao templo de Vishnu, Ganesh e um templo Jainista, alem de duas igrejas catolicas - em uma delas, a St. Francis Church, Vasco da Gama foi enterrado originalmente antes de ser levado a Lisboa anos depois. Dei uma passada no museu arqueologico que fica na Dutch house, onde o que mais me impressionou foram as pinturas murais, bastante mal conservadas mas ainda belas, inspiradas no classico Ramayana; o mercado de especiarias onde boa parte dos tratamentos Ayurvedicos comecam - pela escolha das ervas e temperos. E por falar em Ayurveda, nao pude deixar de experimentar as massagens. La no Ashram ja tinha feito uma, boa mas nao foi tao especial e vigorosa como a primeira que fiz aqui. A mocinha tinha realmente maos magicas e eu relaxei totalmente, alem de ter ficado com a pele e os cabelos muito sedosos. A unica coisa estranha eh o cheiro dos oleos usados - parece molho de salada, depois de um tempo voce se acostuma e ate gosta do odor. A segunda, Sirodhara, eh so na cabeca: massagem e oleo morno caindo na regiao da testa.
...
Como nao consegui ver uma apresentacao de artes marciais tipica daqui do Kerala, resolvi conferir uma encenacao de Kathakali. Surgiu no seculo 17, derivada de uma das mais antigas formas de danca classica do sul da India, o Ramanattam. Uma disciplina que envolve mimica, drama, musica e atuacao. Cheguei uma hora antes do espetaculo comecar para ver a preparacao - maquiagem e arrumacao do palco. Assisti uma peca criada no seculo 18 - "Narakasura Vadham". Conta a historia de Nakrathundi (irma do rei demonio Narakasura) que ao voltar dos reinos celestiais (tinha raptado garotas para seu mestre) se apaixona por Jayanthan (filho de Indra). Quando ela declara que quer fazer amor, ele avisa que primeiro deve trazer seu pai para que ele possa ve-la antes. Ela fica furiosa e retorna a sua forma demoniaca, escura, peitura e descabelada. Ele a pune cortando seu nariz, orelhas e seios - ela volta aos reinos inferiores gritando. Mais tarde Krisna e sua esposa matam o demonio Narakasura.
A historia nao eh muito diferente de outras que vemos por ai - ou ate das nossas proprias. Mas o elemento fantastico da apresentacao definitivamente eh como se da tudo isso, pois nao ha falas - apenas movimentos corporais, expressoes faciais, musica, mudras. Por exemplo para dizer "vem aqui": eh necessario fazer um movimento especifico de pernas e bracos, associado com uma determinada expressao facial e mudra. Eh muito bonito, foi uma bela surpresa.
Kochi ou Cochin ja foi colonia portuguesa, holandesa, britanica ate 1947 quando a India se tornou independente.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
it's a long way
Comprei um bilhete de trem para Delhi ontem. Resolvi nao passar em Goa - afinal nao sei muito bem se quero ver a influencia colonial portuguesa nestes mares daqui - e voltar para o norte, tambem ainda nao sei se vou para Pushkar, no Rajastao ou Amritsar, no Punjab - fronteira com o Paquistao - antes de seguir para Haridwar e Rishkesh, onde pretendo tomar banho no Ganges e selar minha primeira vinda a India com chave d'ouro!
De qualquer forma, serao 48 horas dentro do trem - sleeper class - voar sairia muito mais caro e eu perderia a oportunidade de cruzar boa parte do pais sobre os trilhos e ver muita coisa. Parei de me questionar sobre estar mentalmente preparada para uma epopeia dessas e comprei a passagem para esse domingo.
Sinto como se estivesse prestes a levar uma benzetacil no traseiro. Boa sorte para mim.
De qualquer forma, serao 48 horas dentro do trem - sleeper class - voar sairia muito mais caro e eu perderia a oportunidade de cruzar boa parte do pais sobre os trilhos e ver muita coisa. Parei de me questionar sobre estar mentalmente preparada para uma epopeia dessas e comprei a passagem para esse domingo.
Sinto como se estivesse prestes a levar uma benzetacil no traseiro. Boa sorte para mim.
sobre sonhos & monções
Lembro que durante o TTC dormia muito bem apesar dos meninos do chale ao lado serem bastante barulhentos. Agora no Ashram nao foi diferente, dormi que foi uma beleza, ainda melhor. Tive sonhos estranhos mas nao sonhei em nenhum relaxamento final de aula, como aconteceu na primeira semana em Garopaba. Em uma dessas madrugadas no Ashram, os raios e trovoes e a chuva eram tao fortes que acordei achando que o mundo ia acabar. Pela primeira vez na vida despertei do sono com um pensamento desses na cabeca.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Radesh e eu no templo de Kali em Kalighat, Calcuta / Shiva desolado
Em Kolkata antes de partir para Madras, resolvi dar uma conferida no templo de Kali. Segundo a mitologia, Shiva resolveu dancar para destruir o mundo depois que sua esposa faleceu precocemente. Antes que ele conseguisse arrasar com tudo, apareceu Vishnu para interceder e acalmar os animos do grande iogue chateado. O cadaver dela se partiu em muitos pedacos, espalhandos por toda a India - e diz a lenda que um dedo do pe dela caiu justamente onde esta este templo.
Radesh, um bramane do templo me guiou ate o altar principal, a sala de meditacao, ao lugar onde sao feitos sacrificios de animais para a Deusa (geralmente cabras) e ao patio onde diariamente centenas de pessoas pobres vem se alimantar. Por ultimo a piscina onde as pessoas se purificam - nao entrei porque enfim, estava vestida e a agua era verde escuro e grossa. Na beira uma estatua branca de Shiva observa tudo.
Disse para voltar quando estiver casada (nao sei se entendi a mensagem subliminar), deu incenso para oferecer a Mae Divina e depois me desejou protecao para seguir a viagem.
Tomamos chai em uma barraquinha e fui embora bem feliz da vida.
That it will never come again is what makes life so sweet
Para os iogues tudo na natureza funciona sob as leis de tres forcas - ou qualidades elementares: sattva (superficialmente representavel pela palavra pureza), rajas (atividade) e tamas (inercia). Todas as tres sao necessarias e funcionam como mecanismos que agem integrados, de forma sucessiva e/ou coexistente. Acontece que quando uma das tres esta muito predominante (e por consequencia outra menos) geralmente ha sinal de desequilibrio. Um exemplo bem grosseiro seria o seguinte: quando uma pessoa esta muito cansada e toma litros de cafe para se manter acordada e trabalhar o dia inteiro (rajas). So consegue pegar no sono de madrugada, acorda com dificuldade e fica ainda mais cansada (tamas). Nao levanta disposta e perde sua pratica diaria matinal de tai chi (sattva) - ou qualquer outra atividade befefica para mente/corpo/alma etc). Ou ainda: como esta muito empolgada com o tai chi, faz tres horas ao inves de uma diariamente. Comeca a faltar no trabalho ou chegar atrasada, prejudicando o rendimento.
Enfim, eh sempre positivo querer sobrepor a inercia, e algumas vezes a escuridao atraves do movimento, do impulso por uma atividade, trazer as coisas a `claridade`. Sempre tentando manter a moderacao entre todos os estados, porque nem sempre o satvico eh tao evidente e definitivo assim - nem sempre eh detectavel e certeiro. Algumas vezes o suposto puro pode encobrir algo de natureza mais negativa, prejudicial. Para mim, enquanto aluna e praticante de Yoga, de nada adianta encostar o dedao do pe na orelha fazendo o `shooting bow`, ou saber de cor todos os kirtans e mantras sem que haja certa leveza, sensatez - desapego pelos resultados - desprendimento em relacao a essas mesmas praticas.
Apenas nos mesmos sabemos o que nos motiva a levantar todos os dias da cama; o que resta das conversas com o travesseiro; monologos cerebrais silenciosos.
...
Uma semana no Ashram foi o suficiente para dar uma boa energizada no corpo e na cabeca, e no espirito uma refrescada. Muita aula pratica, algum trabalho, acordar e dormir bem cedo, cantar, conversas divertidas, passeio, pessoas muito especiais. No terceiro dia estava ainda meio perdida e silenciosa quando conheci Aline - uma gaucha que mora no Qatar com o espouso piloto. Foi alegria de cara encontra-la ali, depois de quase um mes sem falar portugues com ninguem - so por e-mail. Passamos bons momentos e demos muitas risadas juntas. Nao tinha muita gente por la ja que agora eh baixa estacao e as moncoes estao chegando - vem muita agua pela frente. Mas das que estavam la conheci ou falei com quase todas - de muitas partes do mundo. Guardarei lembrancas especiais de Aline, Anette, Priya, Sadasiva, Nikhila e da japonesinha que esqueci o nome.
Alias os japoneses sao de uma placidez que raramente se ve em outras auras. Para mim, eles estao sempre flutuando em alguma nuvem.
...
Na sexta-feira saimos de manha cedo para uma excursao (sexta eh o dia livre da semana). Visitamos templos, fomos a praia e tivemos 3 refeicoes (no Ashram sao apenas 2). Mahadeva Temple, Vivekananda Rock Memorial (especialmente propicio para meditar em uma salinha escura onde fica tcando o mantra om continuamente, delicia), Kanya Kumari Devi Temple e Sthanumalaya Temple.
Nunca tinha besuntado tanto minha testa com pastas de sandalo e bebido tanto leite abencoado de concha. Acendi velas, ofereci incensos, doei dinheiro, agradeci, ri, pedi, chorei, ri de novo. Afinal o que seria do sol se nao houvesse a chuva?
...
Na noite anterior a minha saida do Ashram participei de um puja para a Mae Divina. Oracao, canto e recitacao dos diversos nomes da Deusa, entoados em uma poderosa melodia. Dentro da minha capacidade de compreensao e pronuncia do sanscrito , daqueles nomes, preferi deixar os livros de lado, fechar os olhos e saborear o som. Minha cabeca e meu peito letejaram e transbordaram de emocao, nao consegui conter as lagrimas. Quando abri os olhos e olhei para cima, vi a pintura no teto do templo: mostrava um raio de luz saindo da palma da mao da Deusa atingindo a regiao do coracao de tres figuras masculinas - acredito que Brahma, Vishnu e Shiva. O outro raio luminoso ia em direcao a um chakra exterior as tres criaturas na altura do terceiro olho, um centro energetico flutuante.
...
Estou tentando me entender com os cimbalos que adquiri em Darjeeling especialmente para tocar nos satsangas mundo afora. Foi um bom comeco!
Enfim, eh sempre positivo querer sobrepor a inercia, e algumas vezes a escuridao atraves do movimento, do impulso por uma atividade, trazer as coisas a `claridade`. Sempre tentando manter a moderacao entre todos os estados, porque nem sempre o satvico eh tao evidente e definitivo assim - nem sempre eh detectavel e certeiro. Algumas vezes o suposto puro pode encobrir algo de natureza mais negativa, prejudicial. Para mim, enquanto aluna e praticante de Yoga, de nada adianta encostar o dedao do pe na orelha fazendo o `shooting bow`, ou saber de cor todos os kirtans e mantras sem que haja certa leveza, sensatez - desapego pelos resultados - desprendimento em relacao a essas mesmas praticas.
Apenas nos mesmos sabemos o que nos motiva a levantar todos os dias da cama; o que resta das conversas com o travesseiro; monologos cerebrais silenciosos.
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Uma semana no Ashram foi o suficiente para dar uma boa energizada no corpo e na cabeca, e no espirito uma refrescada. Muita aula pratica, algum trabalho, acordar e dormir bem cedo, cantar, conversas divertidas, passeio, pessoas muito especiais. No terceiro dia estava ainda meio perdida e silenciosa quando conheci Aline - uma gaucha que mora no Qatar com o espouso piloto. Foi alegria de cara encontra-la ali, depois de quase um mes sem falar portugues com ninguem - so por e-mail. Passamos bons momentos e demos muitas risadas juntas. Nao tinha muita gente por la ja que agora eh baixa estacao e as moncoes estao chegando - vem muita agua pela frente. Mas das que estavam la conheci ou falei com quase todas - de muitas partes do mundo. Guardarei lembrancas especiais de Aline, Anette, Priya, Sadasiva, Nikhila e da japonesinha que esqueci o nome.
Alias os japoneses sao de uma placidez que raramente se ve em outras auras. Para mim, eles estao sempre flutuando em alguma nuvem.
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Na sexta-feira saimos de manha cedo para uma excursao (sexta eh o dia livre da semana). Visitamos templos, fomos a praia e tivemos 3 refeicoes (no Ashram sao apenas 2). Mahadeva Temple, Vivekananda Rock Memorial (especialmente propicio para meditar em uma salinha escura onde fica tcando o mantra om continuamente, delicia), Kanya Kumari Devi Temple e Sthanumalaya Temple.
Nunca tinha besuntado tanto minha testa com pastas de sandalo e bebido tanto leite abencoado de concha. Acendi velas, ofereci incensos, doei dinheiro, agradeci, ri, pedi, chorei, ri de novo. Afinal o que seria do sol se nao houvesse a chuva?
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Na noite anterior a minha saida do Ashram participei de um puja para a Mae Divina. Oracao, canto e recitacao dos diversos nomes da Deusa, entoados em uma poderosa melodia. Dentro da minha capacidade de compreensao e pronuncia do sanscrito , daqueles nomes, preferi deixar os livros de lado, fechar os olhos e saborear o som. Minha cabeca e meu peito letejaram e transbordaram de emocao, nao consegui conter as lagrimas. Quando abri os olhos e olhei para cima, vi a pintura no teto do templo: mostrava um raio de luz saindo da palma da mao da Deusa atingindo a regiao do coracao de tres figuras masculinas - acredito que Brahma, Vishnu e Shiva. O outro raio luminoso ia em direcao a um chakra exterior as tres criaturas na altura do terceiro olho, um centro energetico flutuante.
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Estou tentando me entender com os cimbalos que adquiri em Darjeeling especialmente para tocar nos satsangas mundo afora. Foi um bom comeco!
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Sivananda's Ashram
Cheguei em Kerala ontem de tarde, depois de ter passado um dia em Kolkata (onde visitei o templo de Kali em Kalighat, outra hora escrevo sobre isso) e uma noite no dormitorio feminino no aeroporto de Madras. Voos tranquilos.
Vou passar uma semana aqui, seguindo a rotina diaria de praticas e meditacoes. Nao tem internet la por isso provavelmente so volte a postar aqui quando chegar em Kochi, na quarta-feira que vem.
Ate la pretendo praticar bastante e aquietar a cabeca.
Om Shanti!!
Vou passar uma semana aqui, seguindo a rotina diaria de praticas e meditacoes. Nao tem internet la por isso provavelmente so volte a postar aqui quando chegar em Kochi, na quarta-feira que vem.
Ate la pretendo praticar bastante e aquietar a cabeca.
Om Shanti!!
domingo, 17 de maio de 2009
sweet momo
Vou guardar boas lembranças daqui. Até agora foi a cidade que mais tempo passei, deu pra descansar e visitar muitos lugares. É uma grande felicidade poder conhecer pessoas novas de vários cantos do planeta - caminhos que se cruzam. E é justamente essa troca que faz com que cada partida seja um movimento inesperadamente incrível - o que nos espera na próxima estação? Bom é não saber.
sábado, 16 de maio de 2009
bem-aventurada algazarra
Ontem acordei às quatro da matina para ver o nascer do sol do Tiger Hill. Encontrei Adam em frente ao hotel e fomos juntos ate a Clock Tower pegar um taxi. O tempo estava nublado e nao deu pra ver praticamente nada, muito menos o monte Khangchendzonga, o ponto mais alto da India. De qualquer forma foi divertido e o visual la de cima e incrível.
Dentro do taxi conhecemos Mike, um programador israelense e Jacob, engenheiro (mais um) alemão - ambos estão viajando faz um tempo também. Voltamos caminhando do morro e passamos em dois mosteiros budistas: Yiga Choting e Sakya Guru. Neste último tivemos a felicidade de chegar bem no começo de alguma cerimônia matinal diária, foi muito bonito e emocionante. Novamente nao consegui pensar em nada. Depois disso tomamos café da manhã.
...
Sempre me dei melhor com meninos, desde pequena, não sei bem por que. Geralmente as conversas fluem mais e a falta de frescura me agrada. Alem disso tem a fruição estética: observar os diversos designs étnicos durante um bom papo. Deleite.
...
Adam, Jacob e eu passamos a noite na praca conversando e depois fomos os terraço do meu hotel para observar as estrelas e fazer contatos imediatos.
Obviamente não viajei para Kalimpong hoje, resolvi ficar mais um dia em Darjeeling sem correria, sigo para Kolkata somente amanhã.
Estou me sentindo bem mais adaptada a tudo. Graças aos deuses - e talvez a minha imunidade - não tive mais problemas intestinais. Com os russos aprendi a me soltar e virei adepta das comidas de barraca na rua. São saborosas e muito baratas. Pode parecer bobagem mas percebi que se você não estiver aberto, qualquer coisa pode te fazer mal, invariavelmente.
Dentro do taxi conhecemos Mike, um programador israelense e Jacob, engenheiro (mais um) alemão - ambos estão viajando faz um tempo também. Voltamos caminhando do morro e passamos em dois mosteiros budistas: Yiga Choting e Sakya Guru. Neste último tivemos a felicidade de chegar bem no começo de alguma cerimônia matinal diária, foi muito bonito e emocionante. Novamente nao consegui pensar em nada. Depois disso tomamos café da manhã.
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Sempre me dei melhor com meninos, desde pequena, não sei bem por que. Geralmente as conversas fluem mais e a falta de frescura me agrada. Alem disso tem a fruição estética: observar os diversos designs étnicos durante um bom papo. Deleite.
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Adam, Jacob e eu passamos a noite na praca conversando e depois fomos os terraço do meu hotel para observar as estrelas e fazer contatos imediatos.
Obviamente não viajei para Kalimpong hoje, resolvi ficar mais um dia em Darjeeling sem correria, sigo para Kolkata somente amanhã.
Estou me sentindo bem mais adaptada a tudo. Graças aos deuses - e talvez a minha imunidade - não tive mais problemas intestinais. Com os russos aprendi a me soltar e virei adepta das comidas de barraca na rua. São saborosas e muito baratas. Pode parecer bobagem mas percebi que se você não estiver aberto, qualquer coisa pode te fazer mal, invariavelmente.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Bhutia Busty Gompa & other stuff
Ontem de manhã fui a um mosteiro tibetano relativamente perto do hotel. Do lado de dentro paredes ricamente pintadas com motivos budistas, um belo altar central com uma imagem linda de Buda. A sua direita Padmasambhava. É quase impossível pensar em qualquer coisa na presença das divindades. Senti uma paz muito forte lá dentro.
Um monge veio conversar comigo, muito simpático e afetuoso me explicou que o original do Livro Tibetano dos Mortos não está lá - ao contrário do que dizem os grandes guias de viagem. Seus olhos pequenos e castanhos eram de um brilho intenso. Aproveitei para ver um templo Hindu - Dhirdam Mandir - dedicado a Shiva.
Na volta encontrei Adam perto da estação de trem, um dos meninos que estava conosco no ônibus para Kathmandu. Inglês descendente de paquistaneses. "brilliant, brilliant". Um cara bem divertido. De tarde fomos ao cinema assistir 'Chowrasta' - um filme indiano rodado aqui mesmo em Darjeeling.
Amanhã de manhã pretendo pegar um taxi até Kalimpong - uma cidadezinha perto daqui. No domingo pego um trem para Kolkata, depois avião para Trivandrum via Chennai. Ufa! Será uma longa jornada.
Chego no Ashram segunda de tarde.
máximas de Vladimir
quarta-feira, 13 de maio de 2009
patience is a flower that grows not in everyone's garden
(final de tarde no Bouddhanath Stupa - comemoração da lua cheia - 09.05.09)
Comprei uma passagem aérea para Trivandrum ontem, via Kolkata (Calcutá). Parto na segunda que vem para o sul do subcontinente. Pretendo passar pelo menos uma semana no Sivananda's Ashram praticando Yoga e seguindo a rotina diária de lá. Acordar cedinho para satsanga, aulas de Hatha, duas refeições diárias, trabalho voluntário, meditações. Parece que por lá está fazendo um calorão danado, tipo 40 graus. Bem diferente daqui. Em Darjeeling temos mínimas de -2°C e máximas de 18, 19. Ontem amanheceu chovendo, muito frio e neblina, não deu parafazer nada por isso resolvi agilizar as passagens. Pego o trem pra Kolkata no domingo de noite. Aproveitei também para me informar sobre passeios e lugares aqui na montanha. Quero ir no Tiger Hill ver o Everest, passear no Zoo e visitar alguns monastérios. Darjeeling é uma mistura de India com Nepal - amabilidade Nepali com facilidades Indianas.
Ontem de noite saí para jantar com Dan - o ecologista inglês, ele está bastante gripado. No caminho de volta encontrei Vladimir e Alexander, os russos malucos. Me juntei a eles numa barraquinha de comida regional. Fico encantada ao perceber como eles são integrados aos costumes locais e estão totalmente abertos e soltos. Dei boas risadas ontem com eles, simples e divertido. Selvagens.
Conversamos sobre Yoga, viagens, experiências místicas, cidades grandes, usar óculos entre outras coisas. Qualquer lugar pode ser inferno ou céu - pode parecer muito óbvio mas - você só toma consciência disso quando para pra pensar em como encarar as coisas.
Sinto que tenho muito que aprender com o povo daqui, aprender com a humildade e paciência deles. Hoje está fazendo um dia muito bonito e o sol está brilhando forte. Vou tomar um banho e sair caminhando por aí.
DAVAI!! (cheers em russo)
Comprei uma passagem aérea para Trivandrum ontem, via Kolkata (Calcutá). Parto na segunda que vem para o sul do subcontinente. Pretendo passar pelo menos uma semana no Sivananda's Ashram praticando Yoga e seguindo a rotina diária de lá. Acordar cedinho para satsanga, aulas de Hatha, duas refeições diárias, trabalho voluntário, meditações. Parece que por lá está fazendo um calorão danado, tipo 40 graus. Bem diferente daqui. Em Darjeeling temos mínimas de -2°C e máximas de 18, 19. Ontem amanheceu chovendo, muito frio e neblina, não deu parafazer nada por isso resolvi agilizar as passagens. Pego o trem pra Kolkata no domingo de noite. Aproveitei também para me informar sobre passeios e lugares aqui na montanha. Quero ir no Tiger Hill ver o Everest, passear no Zoo e visitar alguns monastérios. Darjeeling é uma mistura de India com Nepal - amabilidade Nepali com facilidades Indianas.
Ontem de noite saí para jantar com Dan - o ecologista inglês, ele está bastante gripado. No caminho de volta encontrei Vladimir e Alexander, os russos malucos. Me juntei a eles numa barraquinha de comida regional. Fico encantada ao perceber como eles são integrados aos costumes locais e estão totalmente abertos e soltos. Dei boas risadas ontem com eles, simples e divertido. Selvagens.
Conversamos sobre Yoga, viagens, experiências místicas, cidades grandes, usar óculos entre outras coisas. Qualquer lugar pode ser inferno ou céu - pode parecer muito óbvio mas - você só toma consciência disso quando para pra pensar em como encarar as coisas.
Sinto que tenho muito que aprender com o povo daqui, aprender com a humildade e paciência deles. Hoje está fazendo um dia muito bonito e o sol está brilhando forte. Vou tomar um banho e sair caminhando por aí.
DAVAI!! (cheers em russo)
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Darjeeling
Deixei Kathmandu sob forte tempestade. Raios, trovões e rajadas de ventos, não podia mais ficar la sem que lembrasse dele. Parecia andar pelas ruas ainda segurando sua mão. No sábado Lorrance, Ivan, da Wang e eu fomos ao Boudhanath Stoupa para assistir a celebração da lua cheia. Muita gente, música, reza, foi uma tarde muito gostosa e pacífica. Aquele lugar tem realmente uma aura mágica que afasta de ti todo e qualquer pensamento. Tomei uma sopa de tomate no terraço de um dos restaurantes do complexo, enquanto descansávamos e jogávamos conversa fora. A noite jantamos juntos e eu capotei na cama às onze horas, estava exausta mentalmente.
Peguei o ônibus para Kakarvitta no final da tarde seguinte. Deixar Kathmandu me aliviou um pouco o coração - chega um momento em que você tem que escolher entre repetir a mesma música ou ouvir a próxima. Decidi seguir em frente e voltar para a India. Foi uma viagem chata e cansativa. Conheci dois viajantes russos malucos e ao chegar em Siliguri, Dan, outro inglês se juntou a nós. Vladimir, um dos meninos russos, parece ter saído de um livro do Bukowski - uma garrafa de destilado na mão, cigarro na outra e um peixe fedorento que de vez em quando ele tira da bolsa, desembrulha e come.
Pegamos um jipe rumo a Darjeeling - mais ou menos uma hora e pouco subindo por uma estrada sinuosa a beira de um barranco com pouca visibilidade e bastante neblina. A impressão que você tem é que esta indo pro céu e vai encontrar algo realmente fantástico a qualquer momento. Uma revelação talvez.
E só consigo pensar nele. Acho melhor agilizar logo minha ida ao Ashram e tentar acalmar. Tenho vontade de gritar alto, com todas as minhas forcas, para que ele escute la do Everest e volte pra mim.
Peguei o ônibus para Kakarvitta no final da tarde seguinte. Deixar Kathmandu me aliviou um pouco o coração - chega um momento em que você tem que escolher entre repetir a mesma música ou ouvir a próxima. Decidi seguir em frente e voltar para a India. Foi uma viagem chata e cansativa. Conheci dois viajantes russos malucos e ao chegar em Siliguri, Dan, outro inglês se juntou a nós. Vladimir, um dos meninos russos, parece ter saído de um livro do Bukowski - uma garrafa de destilado na mão, cigarro na outra e um peixe fedorento que de vez em quando ele tira da bolsa, desembrulha e come.
Pegamos um jipe rumo a Darjeeling - mais ou menos uma hora e pouco subindo por uma estrada sinuosa a beira de um barranco com pouca visibilidade e bastante neblina. A impressão que você tem é que esta indo pro céu e vai encontrar algo realmente fantástico a qualquer momento. Uma revelação talvez.
E só consigo pensar nele. Acho melhor agilizar logo minha ida ao Ashram e tentar acalmar. Tenho vontade de gritar alto, com todas as minhas forcas, para que ele escute la do Everest e volte pra mim.
sábado, 9 de maio de 2009
oh, angie, dont you weep, all your kisses still taste sweet
Steve partiu para o Tibet hoje de manhã cedo. Vai levar um pedacinho de mim para a China e depois para a Rússia. Nunca pensei que pudesse encontrar uma qúimica tão inesperadamente especial assim ao acaso. Estou feliz por ter vivido oito dias intensos de carinho e diversão, mas também sinto um certo vazio no peito neste momento.
Ele está viajando há mais ou menos 10 meses, passou por toda a América, partes da África, morou um tempo na Oceania e conhece quase toda a Europa. E eu fui encontrá-lo justamente dentro de um trem abafado na India.
Steve, que os seres celestiais te protejam meu querido. Vamos ver o que o drama cósmico reserva para nós.
Cheers :)
XXX
roteiros budistas
Nestes últimos dias visitei dois lugares belíssimos: Swayambhunath e Bouddhanath Stupa. O primeiro se refere a maior stupa do Nepal construída em 250 a.C., típica da arquitetura budista. Fui andando com Lorrance (uma amiga francesa que conhecemos no ônibus de Varanasi até Katmandu). Para chegar é preciso subir uma longa escada e lá de cima dá para ver toda a cidade. Cada parte da construção é prenhe de significados. Na parte principal superior há olhos pintados apontando para as quatro direções - os olhos de Buda que tudo enxerga. Ao redor da estupa há rodas de orações e ao caminhar em volta do santuário é posível girá-las. Girar essas rodas de orações é uma forma de reza e meditação, através dela se dilui o resultados das más ações. Ao contemplar essas magníficas estruturas nos livramos de toda confusão.
A segunda stupa vistei com Steve, fica há mais ou menos 7 km do centro de Katmandu e é ainda maior que a primeira. Um dos locais mais sagrados para os budistas, suas origens remontam a Jyajima, uma pobre garota. Depois de ter quatro filhos, conseguiu coletar dinheiro o suficiente para construir o maravilhoso santuário. Ao redor da estrutura principal há cento e oito nichos menores, representando icones de Buda, Bodhisatvas e outras figuras femininas. Sua construção terminou no século V. Dentro do complexo há muitas lojinhas e cafés. É possível também trocar dinheiro e fazer uma boa refeição em um dos restaurantes.
Hoje a noite haverá celebrações da lua cheia de Buda - ele nasceu, iluminou-se e desencarnou na mesma primeira lua cheia do mês de maio. Estarei presente em uma das estupas para conferir, tenho certeza de que será emocionante. Om Mani Padme Hum!
sexta-feira, 8 de maio de 2009
free hugs
Estávamos caminhando em direção ao hotel quando um Sadhu veio em minha direção com um baita sorriso no rosto e me agarrou, no bom sentido. Me deu um abraço muito forte, atirou seus dreadlocks em mim e pediu para tirar uma foto. Ao final, é claro, pediu uma bufunfinha. Sadhu que é Sadhu tem que receber cachê!
Hanuman-dhoka Durbar Square
Também conhecido como Kathmandu Durbar Square, é um complexo de templos e palácios hindus e budistas construídos entre os séculos 12 e 18. Serviu como residência imperial até o século 20. Está localizado no coração de Kathmandu e foi reformado algumas vezes nos últimos anos. Formado por duas áreas principais onde a externa é conhecida por diversos templos como Kumari Ghar e Jagannath Temple, enquanto o complexo interno compreende a antiga área real: Taleju Temple e Nasal Chowk, entre muitos outros. Há muitas lojas e feiras abertas ao redor desta área, é possível sentar e tomar um belo chai ou apenas subir em um dos monumentos e observar a vista da região.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
dancing on the floor
Muitas pessoas esperam para ser cremadas no Manikarnika ghat, passando suas vidas inteiras morando em alojamentos, dedicando-se a orações e rituais de purificação. Quando chega a hora, todo os pelos são removidos e o corpo é preparado para a pira. Mulheres grávidas, crianças, leprosos não podem ser queimados e atirados no rio. São preparados e colocados sobre uma folha de bananeira e saem boiando sem rumo pelo Ganges. Por incrível que pareça não há cheiro algum perto das fogueiras de corpos, o fogo nunca apaga 24 horas por dia. Morrer em Varanasi, ou Benares, é um privilégio e diz-se que o maha samadhi aqui te eleva diretamente ao Nirvana e a libertação dos ciclos de nascimentos e mortes.
...
Passei esses três dias em Varanasi em estado de observação pois a dor de barriga continuou e evoluiu para diarréia. Tomei sais e soros para reidratar, mudei minha dieta mas o que me salvou mesmo foi um remédio que Steve me deu que deve ter matado tudo dentro do meu intestino. Dois dias de ônibus, uma noite na fronteira da India com o Nepal em um alojamento simples. Conhecemos algumas pessoas e a viagem foi cheia de emoções. A estrada era muito sinuosa e esburacada, mas tudo correu muito bem. Os Nepaleses são amáveis e menos invasivos que os indianos, ao menos até agora. O clima é mais ameno por aqui também. Katmandu tem uma aura mística muito forte, estou me sentindo em casa aqui.
Pretendo passar uns 3 ou 4 dias e voltar pra India entrando por Darjeeling, sem Steve. Ele segue pro Tibet e dessa vez se ele me chamar não aceitarei. Estranha capacidade essa de entrega, sempre acompanhada de uma sensação de desapego e limite. Talvez nunca mais o encontre, talvez nossos lábios nunca mais se toquem - e isso não deixa de fazer com que este momento seja muito especial.
Doces loucuras no topo do mundo.
domingo, 3 de maio de 2009
last tango in Benares
Mr. Chambers e eu fomos passear no Ganges ontem a tarde. Pegamos um barco e assistimos ao arati do final do dia e a cremação dos corpos no Manikarnika Ghat. Fizemos oferendas ao rio sagrado durante o por do sol. Momento muito especial. Não estava em meus planos encantar-me de tal maneira por uma pessoa a ponto de fazer alterações de roteiro, mesmo. Katmandu aí vamos nós!
sexta-feira, 1 de maio de 2009
ruptura epistêmica
Depois de mais de 18 horas dentro de um trem sem ar condicionado e beirando os 44 graus, cheguei em Varanasi. No início pensei que não fosse aguentar o calor, o amontoado de gente no mesmo metro quadrado e a dor de barriga que sentia. Estava demorando até mas aconteceu: o primeiro piriri na India a gente nunca esquece. Minha sorte é que aconteceu momentos antes de embarcar no trem, pude ir até o banheiro da estação e me aliviar, pois dentro dos vagões os banheiros são Indian style - ou seja: um buraco no chão e a coisa toda cai nos trilhos. É preciso ter boa flexibilidade e facilidade para agachar sem se sujar todo.
Aproveitei para fazer jejum e levei apenas bananas - como meu corpo foi legal comigo quis retribuir e dar um tempo para o intestino. Levei pouca água também.
A viagem foi tranquila, as pessoas conversavam a maior parte do tempo. Tinha uma família viajando e por diversas vezes eles abriram um jornal, tiraram comida de dentro de um saco plástico e comeram. As duas pequenas meninas não paravam quietas, eram brincalhonas. Toda hora o pai trazia alguém que conhecia dentro do trem para comer junto com eles. Chamou um homem que parecia o Devendra Banhart de pele escura, trazia uma pequena cimitarra pendurada no corpo. Seus olhos tinham maquiagem preta e suas mãos adornadas com henna e muitos anéis. Exotismo puro.
Acho que depois desta experiência será muito difícil não aguentar qualquer coisa. Foi um teste de resistência física e mental. Aproveitei para escutar música, ler, desenhar e pensar na vida.
De vez em quando também dava uma espiada com o canto do olho em Steve, o inglês que viajava conosco. Está na India há um mês e vai seguir para o Nepal amanhã. Se ele me chamasse para ir junto eu não pensaria duas vezes. Deixaria o plano da lua cheia em Bodh Gaya para uma próxima vez, ou uma outra encarnação.
Estamos neste momento sentados na sala de computador - ele veio para o mesmo hotel que eu. Que sotaque, que olhos, que ombros. Que jornada!
Aproveitei para fazer jejum e levei apenas bananas - como meu corpo foi legal comigo quis retribuir e dar um tempo para o intestino. Levei pouca água também.
A viagem foi tranquila, as pessoas conversavam a maior parte do tempo. Tinha uma família viajando e por diversas vezes eles abriram um jornal, tiraram comida de dentro de um saco plástico e comeram. As duas pequenas meninas não paravam quietas, eram brincalhonas. Toda hora o pai trazia alguém que conhecia dentro do trem para comer junto com eles. Chamou um homem que parecia o Devendra Banhart de pele escura, trazia uma pequena cimitarra pendurada no corpo. Seus olhos tinham maquiagem preta e suas mãos adornadas com henna e muitos anéis. Exotismo puro.
Acho que depois desta experiência será muito difícil não aguentar qualquer coisa. Foi um teste de resistência física e mental. Aproveitei para escutar música, ler, desenhar e pensar na vida.
De vez em quando também dava uma espiada com o canto do olho em Steve, o inglês que viajava conosco. Está na India há um mês e vai seguir para o Nepal amanhã. Se ele me chamasse para ir junto eu não pensaria duas vezes. Deixaria o plano da lua cheia em Bodh Gaya para uma próxima vez, ou uma outra encarnação.
Estamos neste momento sentados na sala de computador - ele veio para o mesmo hotel que eu. Que sotaque, que olhos, que ombros. Que jornada!
Amber Fort - Jaipur
Esta fortaleza foi erguida em 1592 por Man Singh sobre as ruínas de um velho forte do século II. Os diversos prédios acrescentados por Jai Singh I (reinado de 1621 a 1667) são as principais atrações. Este forte-palácio foi a cidadela Kachhawaha até 1727 quando a capital do Rajastão passou a ser Jaipur, permanecendo até hoje. Acima uma vista geral do complexo e uma foto do Ganesh Pol, belíssimo por tal de três andares construído em 1640. Faz ligação com os aposentos privativos no andar mais alto, reservado para as senhouras. Consegui me perder lá dentro mas no final achei a saída.
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