sexta-feira, 1 de maio de 2009

ruptura epistêmica

Depois de mais de 18 horas dentro de um trem sem ar condicionado e beirando os 44 graus, cheguei em Varanasi. No início pensei que não fosse aguentar o calor, o amontoado de gente no mesmo metro quadrado e a dor de barriga que sentia. Estava demorando até mas aconteceu: o primeiro piriri na India a gente nunca esquece. Minha sorte é que aconteceu momentos antes de embarcar no trem, pude ir até o banheiro da estação e me aliviar, pois dentro dos vagões os banheiros são Indian style - ou seja: um buraco no chão e a coisa toda cai nos trilhos. É preciso ter boa flexibilidade e facilidade para agachar sem se sujar todo.

Aproveitei para fazer jejum e levei apenas bananas - como meu corpo foi legal comigo quis retribuir e dar um tempo para o intestino. Levei pouca água também.

A viagem foi tranquila, as pessoas conversavam a maior parte do tempo. Tinha uma família viajando e por diversas vezes eles abriram um jornal, tiraram comida de dentro de um saco plástico e comeram. As duas pequenas meninas não paravam quietas, eram brincalhonas. Toda hora o pai trazia alguém que conhecia dentro do trem para comer junto com eles. Chamou um homem que parecia o Devendra Banhart de pele escura, trazia uma pequena cimitarra pendurada no corpo. Seus olhos tinham maquiagem preta e suas mãos adornadas com henna e muitos anéis. Exotismo puro.

Acho que depois desta experiência será muito difícil não aguentar qualquer coisa. Foi um teste de resistência física e mental. Aproveitei para escutar música, ler, desenhar e pensar na vida.
De vez em quando também dava uma espiada com o canto do olho em Steve, o inglês que viajava conosco. Está na India há um mês e vai seguir para o Nepal amanhã. Se ele me chamasse para ir junto eu não pensaria duas vezes. Deixaria o plano da lua cheia em Bodh Gaya para uma próxima vez, ou uma outra encarnação.

Estamos neste momento sentados na sala de computador - ele veio para o mesmo hotel que eu. Que sotaque, que olhos, que ombros. Que jornada!

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